domingo, 30 de março de 2008

Antes de expor o tema das aulas da semana, seguem os links dos blogs da Professora Drª Eliana Mara Chiossi:
Quando se fala cada vez mais de Machado de Assis, a pretexto do cinema, permito-me, com o desrespeito que Deus me deu (inclusive em relação a Ele próprio) falar do Bruxo. Como não sou dos maiores e nem mesmo dos menores admiradores do fundador da Academia Brasileira de Letras (“a Glória que fica, eleva, honra e consola”, eu, hein?) não vou discutir a maciça, impenetrável, inexpugnável web que se criou em torno dele. Nem polemizar com a desconfiança que os maiores erúditos (com acento no ú, por favor) e curiosos têm pra relação equívoca entre Capitu, a “dos olhos de ressaca” (que Machado não explica se era ressaca do mar ou de um porre) e Escobar, o mais íntimo amigo de Bentinho, narrador e personagem principal do livro. Essa desconfiança vem desde 1900, quando Machado de Assis publicou Dom Casmurro. Afinal Capitu deu ou não deu pro Escobar? Dom Casmurro é ou não é corno, palavra cujo sentido de infâmia - ainda mantendo bastante de sua força nesta época de total permissividade - na época de Machado era motivo de crime passional, “justa defesa da honra”, e outros desagravos permitidos pela legislação e pelos costumes. A palavra corno era tão infamante que mesmo o sangue não lavava honra nenhuma. O cara era corno e, lavasse ou não lavasse o brio dos seus chifres com todos os sabões e explicações, o universo dos olhares convergia, pelo menos ele assim sentia, pra sua infamada testa. Curioso que, ontem como hoje, o epíteto "corna" não se grudou às mulheres. Ela é tola, idiota, “não sei como suporta isso!”, “corneia ele também!”, mas o epíteto não colou. Mas Dom Casmurro sofre da dor específica umas 50 páginas do romance, envenenado pela hipótese da infidelidade da mulher. Eu, porém, ao contrário dos erúditos, não tenho hipótese. Capitu deu pra Escobar. O narrador da história, Bentinho/Machado, só não coloca até o DNA de seu (do Escobar, claro) filho porque ainda não havia DNA, que atualmente está acabando com o romance “policial” e a novela passional. Mas Bentinho/Machado fica humilhado, desesperado mesmo, à proporção em que o filho vai crescendo e mostrando olhos, mãos, gestos e tudo o mais do amigo, agora morto. Bentinho chega a chamar Escobar de comborço (parceiro na cama conjugal). Essa é a intriga principal do livro. Mas, curiosamente, pela nossa eterna pruderie intelectual, ainda ridiculamente forte com relação a outro tipo de relação, a homo, nunca vi ninguém falar nada das intimidades entre Bentinho e Escobar. É verdade que, na época, Oscar Wilde estava em cana por causa do pecado “que não ousa dizer seu nome”. Mas, olhe, não estou afirmando nada. Leiam estes destaques (da edição da Editora Nova Aguilar), que colhi no original, e julguem. Quem fala é Bentinho/Machado...
Italo Moriconi, 45 anos de idade, é poeta e professor de Literatura Brasileira e Comparada na UERJ. Começou a publicar poesia em 1972, no antigo Suplemento da Tribuna da Imprensa. Depois de formar-se em Ciências Sociais na UnRSLem 1975, transferiu-se para o Rio, onde participou ativamente dos movimentos culturais e políticos da época. Colaborou com vários órgãos da imprensa alternativa e foi um dos fundadores do jornal Beijo. Seus livros de poesia são: Léu (1988); A Cidade e as Ruas (1992) e Quase Sertão (1996). Sua tese de doutorado em Letras pela PUC foi publicada em livro com o título A Provocação Pós-Moderna (Ed. Diadorim, 1994). Em 1996, escreveu para a Relume Dumará e Secretaria Municipal o volume da Coleção Perfis do Rio sobre a poeta Ana Cristina Cesar. Nos últimos anos, tem publicado diversos ensaios sobre teoria estética e sobre poesia pós-modernista brasileira em periódicos universitários. Atualmente, prepara uma coletânea de ensaiossobre Caio Fernando Abreu, com a participação de representantes da mais nova geração de críticos universitários brasileiros e estrangeiros.
RSL: Proust, Rimbaud, Oscar Wilde... Como encara o fato de os maiores escritores de todos os tempos serem homossexuais?
Italo Moriconi - Não sei se todos os maiores escritores foram homossexuais. Os que vieram antes do século XIX, como Shakespeare e Platão, certamente ano eram homossexuais, embora mantivessem relações eróticas com outros homens. Pois, como Foucault mostrou em sua História da Sexualidade, o termo "homossexual" como definição de identidade de uma pessoa só apareceu no século passado, embora práticas homoeróticas e fenômenos de travestismo sejam inerentes à espécie humana. Seja como for, levando em conta que a categoria "homossexual" ainda é vigente como forma de classificar pessoas com base em suas preferências eróticas, se pegarmos os 3 escritores citados por você, pode-se observar que da vida de Rimbaud não se sabe o suficiente para garantir que todas as relações mantidas por ele na maturidade africana tenham sido relações homoeróticas. Quanto a Oscar Wilde, que provavelmente era o mais desmunhecado dos 3, não era homossexual, e sim, bissexual. Depois de ter sido vestido como uma menina pela mãe até a idade de 8 anos, Wilde cresceu, casou-se, fez filhos na esposa e, paralelamente, levou intensa vida de prazeres com prostitutos, marinheiros e jovens trabalhadores musculosos em geral, na animadíssima vida gay da Londres de final do século XIX, isso até se apaixonar por Lord Douglas. A grande dúvida que permanece é saber se Wilde era passivo ou ativo nas centenas de relações homoeróticas que manteve ao longo de seus longos anos de vida dupla. Tudo indica que ele alternava os papéis.
RSL- Há uma dicção costurando e caracterizando a cultura gay?
IM - Sim, há uma dicção gay. Eu citaria o escritor americano Edmund White como autor de uma obra exemplar dessa dicção. Oscar Wilde certamente é um precursor e também o Proust mencionado por você. Mas assim como a cultura gay tem inúmeras subculturas dentro dela, existe uma diversidade de dicções que se somam a essa dicção básica de White, Wilde e Proust. Como dicções gay alternativas, cito os exemplos de Jean Genet, Pasolini e, no cinema, Fassbinder e Derek Jarman, além do próprio Pasolini, que foi misto de escritor, cineasta e animal político. Pode-se também dizer que toda a cultura dos musicais hollywoodianos é gay, assim como a televisão, estimulando a atividade masturbatória livre de crianças abandonadas em seus quartos, instaura uma dicção gay (ou "queer" -- viada) ) na cultura de massas como uma das linguagens dominantes de nosso tempo. No Brasil, temos uma literatura gay, mas não sei se existe uma dicção gay, como na literatura anglo-saxônica.
RSL- Você concorda com Harold Bloom? De quais poetas fortes descende? É angustiado por alguma influência?
IM - Concordo com o que de Harold Bloom? Harold Bloom deve ter uns 12 a 15 livros publicados e idéias as mais variadas sobre os mais variados tópicos. Você se refere à teoria da ansiedade da influência, ou seja, ao Harold Bloom dos anos 70. Acho-a uma teoria super pertinente para ajudar a entender as relações entre gerações de poetas, mas acho-a também parcialmente furada por seu caráter anglocêntrico e falocêntrico. Minha angústia de influência se dá em relação a Drummond, Caetano Veloso, Ana Cristina Cesar e Cazuza. Tenho também uma angústia de influência em relação aos meus dois grandes mestres da PUC, o Costa Lima e o Silviano Santiago.
RSL- A metáfora e a linguagem conotativa não fazem mais um poema. É necessária alguma atualização dos conceitos ligados a linguagem poética? Esta atualização passa pelo conceito de modernidade e pós-modernidade?
IM - Não concordo com sua primeira frase, de que a metáfora e a conotação não fazem mais um poema. Podem até não fazer, mas colocar isso como um dogma não corresponde em nada à realidade atual. Alguns dos poetas mais jovens em circulação em várias culturas (conheço basicamente brasileiros, americanos e portugueses, um pouco de hispano-americanos) pelo contrário mostram a vitalidade do uso da metáfora como tática de arte verbal. Quanto à atualização de conceitos, é uma necessidade permanente. Desde o fim do Renascimento, nunca se passam 30 a 50 anos na cultura ocidental sem que haja uma necessidade de revolução conceitual. A revolução conceitual contemporânea já aconteceu e as discussões sobre pós-modernidade representam uma tentativa de pedagogizar, de popularizar essa revolução conceitual.
RSL- Hoje em dia o poeta novo fica, com a falta de movimentos literários, sem uniformidade e modelo. Tal fato é positivo ou negativo?
IM - Acho que é um fato. Positivas ou negativas são as reações ao fato. Minha reação é basicamente positiva, como seria positiva se o fato fosse outro. Não sou conservador, por isso minha tendência raramente é negar o presente em nome de um passado.
RSL- Você poderia fazer um panorama rápido da poesia brasileira atual. Em quais vertentes literárias estão os poetas atuais?
IM - A poesia dos anos 90 apresenta duas vertentes básicas. Uma vertente esteticista, representada por poetas como Carlito Azevedo, Claudia Roquette Pinto, Nelson Ascher, Josely Vianna Baptista, o Jorge Lúcio. De maneiras muito próprias, podem ser incluídos nessa vertente poetas como Paulo Henriques Britto e Lu Menezes. A outra vertente seria uma vertente neoconservadora, metafísica, representada por Alexei Bueno, Bruno Tolentino, Marco Lucchesi. Talvez Ivan Junqueira se encaixe desse lado. Paralelamente a isso, existe um aprofundamento e diversificação da vertente feminista/feminina, com a própria Claudia Roquette Pinto, Clara Góes e muitas outras. E como emergência temática marcante nesses anos 90, aparece a poesia gay, que é um belo rótulo, mas que eu prefiro chamar de homoerótica masculina. Nessa nova voz, incluo-me eu mesmo, e poetas como Antonio Cicero e Valdo Mota, mas nós 3 temos abordagens bem diferentes, que qualquer leitor poderá verificar por conta própria. Gosto também de poetas mais dionisíacos, como Waly Salomão, e das sensualérrimas Hilda Hilst e Olga Savary.
RSL- Você está na antologia da Heloísa. O que o qualificou para pertencer à obra?
IM - Esta seria uma pergunta que você deveria fazer à Heloísa. De qualquer modo, não acho que a participação numa antologia de contemporâneos tenha qualquer coisa a ver com sistemas escolares de "qualificação", doutoramentos, titulações e coisas assim. Como não sei fazer auto-propaganda chinfrim, devolvo a você a pergunta: o que, em sua opinião, me qualifica ou desqualifica para a antologia?
RSL- Há algo de positivo no fato de a crítica literária concentrar-se nos meios acadêmicos?
IM - Há algo de negativo?
RSL- Acho que sim. Não o fato em si, mas a crítica ficar restrita à universidade, convenhamos, é uma ação limitada ou não? ou apenas os escritores da trindade Uerj, Uff, Ufrj é que têm importância. Ao meu ver este fato é nefasto. Quando não há o diálogo, alguma coisa está errada. Não defendendo o Wilson Martins, pelo contrário, há só ele. O resto é resenha paga, entrevistas de escritores estrangeiros, fofoca, badalação...
IM - O problema não é a crítica ficar restrita à universidade, o problema é não haver no Brasil um tipo de imprensa cultural que faça a ponte entre universidade e público culto em geral. Nisso, a grande imprensa paulista é muito melhor que a carioca, particularmente a Folha. Pena que eles privilegiem a USP. Quanto aos escritores, não acredito que os preferidos da comunidade acadêmica sejam os únicos que apareçam, pelo contrário, a crítica universitária gosta de escritores sofisticados e complexos, como João Gilberto Noll, Zulmira Ribeiro Tavares, ou transgressivos, como Hilda Hilst e Caio Fernando Abreu, etc., e pouco se ocupa de escritores populares e que aparecem muito mais na imprensa, como João Ubaldo, Veríssimo, Jô Soares, etc. O exemplo dado por você, Wilson Martins, é bastante infeliz. Nada mais típico de uma certa universidade que Wilson Martins, que foi professor da New York University durante décadas e, depois de aposentado, passou a escrever essa coluna dele no Globo, uma coluna que eu não considero que seja uma coluna de crítica e sim uma crônica-resenha semanal. Não entendo sua colocação sobre resenha paga. Que as resenhas (inclusive no caso de Wilson Martins) substituíram a crítica literária na imprensa brasileira, não resta dúvida. Mas você deveria dizer: resenhas mal pagas. As resenhas que a imprensa publica são muito mal pagas, em matéria financeira. Resenhas são espaço publicitário, só que no campo da literatura publicidade é uma coisa muito mais complicada que no mercado maior. Sim, porque você pode querer fazer a publicidade de uma idéia, e de repente, uma resenha pode ser o espaço ideal para isso. Hoje em dia acho mortífero para uma pessoa interessada profissionalmente em literatura ficar fora, alheia ou antagônica em relação à universidade. Até a linguagem dessa pessoa vai ficar defasada e antiquada. Na medida em que a grande imprensa está fechada para debates intelectuais mais profundos ou extensos, o único lugar em que ainda existe um mínimo de vida inteligente e de paixão por idéias é a universidade mesmo.
RSL- Hoje mesmo, dia 12 de abril, O GLOBO publica uma matéria sobre o possível fim do livro. A internet será o carrasco da palavra no papel?
IM - Não sou futurólogo, portanto não posso produzir uma resposta para sua pergunta assim de estalo. Mas há bibliografia, e crescente, sobre o assunto. O último número do New York Review of Books traz um interessante artigo do Robert Darnton sobre o assunto. Outro que tem falado sobre isso é o Umberto Eco velho de guerra.
RSL- Você fez um perfil da escritora Ana Cristina César... O fato de ter falecido jovem potencializa a curiosidade sobre seus escritos. Alguns a acusam de plágio. Quem foi, quem é Ana Cristina César?
IM - Prefiro não responder à pergunta sobre quem é ou quem foi Ana C., pois, afinal contas, escrevi um livro sobre o assunto. A resposta está lá. Não existe plágio na escrita de Ana C. O que existe, conforme já demonstrado não apenas pelo meu, mas por vários livros e teses sobre a poeta, o que existe é um processo intenso de intertextualidade, apropriação, pastiche e parodia. Nisso, ela não inova em nada, apenas segue o modelo estabelecido por um dos poemas paradigmáticos da modernidade do século XX: "The Waste Land" ("Terra Desolada") de T. S. Eliot. Em meu livro, analiso as relações entre as poéticas de Ana e de Eliot.
RSL- Você tem um mote, alguma epígrafe que o acompanha pela vida. Qual? Fale um pouco sobre!
IM - Acho que não tenho. Desde criança sou um contumaz leitor de páginas e livros e jornais e revistas e um devorador de filmes e todos os demais tipos de mensagens. Diante de tal quantidade de informação não dá para escolher uma única frase e transformá-la em fetiche. Vivo em constante movimento, constante tumulto e exaltação mentais.
RSL- Qual o papel do escritor na sociedade?
IM - Existem diferentes tipos de escritores, que correspondem a diferentes visões de seu papel na sociedade. Minha fidelidade, minha paixão primeira se dirige àqueles que são indisciplinadores de almas. A definição é de Fernando Pessoa.
Duas dicas de cinema muito bacanas: Primeiro, Thelma e Louise. No filme, uma mulher cansada da vida de dona de casa maltratada pelo marido embarca em uma viagem de final de semana com uma amiga, mas que mudará para sempre a vida das duas quando inesperados problemas surgem em seus caminhos. é um filme norte-americano de 1991 concebido e escrito por Callie Khouri, co-produzido e dirigido por Ridley Scott, e estrelando Geena Davis como Thelma, Susan Sarandon como Louise, e Harvey Keitel como um simpático detetive tentando resolver crimes que as duas mulheres cometem. E se possível, veja The Unbearable Lightness of Being (A Insustentável Leveza do Ser) é um filme estadunidense de 1988, do gênero drama, dirigido por Philip Kaufman. O roteiro é adaptado do livro A insustentável leveza do ser, de Milan Kundera. A trama é a seguinte: a história acontece em Praga e em Viena, em 1968, e atravessa algumas décadas. Narra os amores e os desamores de quatro pessoas: Tomas, Tereza, Sabina e Franz. É permeada pela invasão russa à Tchecoslováquia e pelo clima de tensão política que pairava na Praga daqueles dias.
Por fim, leiam a crítica de Àlvaro Pedro, da nossa turma, sobre o filme Juno:
Você conhece Adélia Prado?
Adélia Luzia Prado Freitas (Divinópolis, 13 de dezembro de 1935) é uma escritora brasileira. Seus textos retratam o cotidiano com perplexidade e encanto, norteados pela sua fé cristã e permeados pelo aspecto lúdico, uma das características de seu estilo único. Nas palavras de Carlos Drummond de Andrade: "Adélia é lírica, bíblica, existencial, faz poesia como faz bom tempo: esta é a lei, não dos homens, mas de Deus. Adélia é fogo, fogo de Deus em Divinópolis". Adélia é também referência constante na obra de Rubem Alves. Professora por formação, exerceu o magistério durante 24 anos, até que sua carreira de escritora tornou-se sua atividade central. Em termos de literatura brasileira, o surgimento de Adélia representou a revalorização do feminino nas letras e da mulher como ser pensante, ainda que maternal, tendo-se em conta que Adélia incorpora os papéis de intelectual e de mãe, esposa e dona-de-casa; por isso sendo considerada como a que encontrou um equilíbrio entre o feminino e o feminismo, movimento cujos conflitos não aparecem em seus textos. A literatura brasileira, além de ser fortemente marcada pela presença de Adélia Prado, também foi marcada por um período de silêncio poético no qual a escritora "emudeceu sua pena". Depois de O Homem da Mão Seca, de 1994, Adélia ficou cinco anos sem publicar um novo título, fase posteriormente explicada por ela mesma como "um período de desolação. São estados psíquicos que acontecem, trazendo o bloqueio, a aridez, o deserto". Oráculos de Maio, uma coletânea de poemas, e Manuscritos de Felipa, uma prosa curta, marcaram seu retorno, ou a quebra do silêncio. Rubem Alves refere-se a esses silêncios em A Festa de Babbete.

quarta-feira, 19 de março de 2008

Dom Casmurro foi publicado em 1900 e é um dos romance mais conhecidos de Machado. Narra em primeira pessoa a estória de Bentinho que, por circunstância várias, vai se fechando em si mesmo e passa a ser conhecido como Dom Casmurro. Sua estória é a seguinte: Órfão de pai, criado com desvelo pela mãe (D. Glória), protegido do mundo pelo círculo doméstico e familiar (tia Justina, tio Cosme, José Dias), Bentinho é destinado à vida sacerdotal, em cumprimento a uma antiga promessa de sua mãe. A vida do seminário, no entanto, não o atrai, já o namoro com Capitu, filha dos vizinhos. Apesar de comprometido pela promessa, também D. Glóri a sofre com a idéia de separar-se do filho único, interno no seminário. Por expediente de José Dias, o agregado da família, Bentinho abandona o seminário e, em seu lugar, ordena-se um escravo. Correm os anos e com eles o amor de Bentinho e Capitu. Entre o namoro e o casamento, Bentinho se forma em Direito e estreita a sua amizade com um ex-colega de seminário, Escobar, que acaba se casando com Sancha, amiga de Capitu. Do casamento de Bentinho e Capitu nasce Ezequiel. Escobar morre e, durante seu enterro, Bentinho julga estranha a forma qual Capitu contempla o cadáver. A partir daí, os ciúmes vão aumentando e precipita-se a crise. Á medida que cresce, Ezequiel se torna cada vez mais parecido com Escobar. Bentinho muito ciumento, chega a planejar o assassinato da esposa e do filho, seguido pelo seu suicídio, mas não tem coragem. A tragédia dilui-se na separação do casal. Capitu viaja com o filho para a Europa, onde morre anos depois. Ezequiel, já mocó, volta ao Brasil para visitar o pai, que apenas constata a semelhança entre e antigo colega de seminário. Ezequiel volta a viajar e morre no estrangeiro. Bentinho, cada vez mais fechado em usas dúvidas, passa a ser chamado de casmurro pelos amigos e vizinhos e põe-se a escrever de sua vida (o romance).
Na semana passada, Fahrenheith 451 foi exibido em sala de aula. Você não assistiu? Então saiba um pouco mais sobre o filme:
Fahrenheit 451 (br: Farenheit 451 — pt: Grau de destruição) é a adaptação cinematográfica do romance homônimo de Ray Bradbury, dirigida por François Truffaut em 1966. A trilha sonora é de Bernard Hermann (compositor favorito de Alfred Hitchcock), e a direção de fotografia de Nicholas Roeg. Num futuro hipotético, os livros e toda forma de escrita são proibidos por um regime totalitário, sob o argumento de que faz as pessoas infelizes e improdutivas. Se alguém é flagrado lendo é preso e "reeducado". Se uma casa tem muitos livros e um vizinho denuncia, os "bombeiros" são chamados para incendiá-la. Montag é um desses bombeiros. Chamado para agir numa casa "condenada", ele começa a furtar livros para ler. Seu comportamento começa a mudar, até que sua mulher, Linda, desconfia e o denuncia. Enquanto isso, ele mantém amizade com Clarisse, uma mulher que conhecera no metrô. Ela o incentiva e, quando ele começa a ser perseguido (e preso, segundo a versão televisiva oficial), ela o leva à terra dos homens-livro, uma comunidade formada por pessoas que guardaram seus livros e também eram perseguidos. Essas pessoas decoravam os livros, para publicá-los quando não fossem mais proibidos, e os destruíam. Os créditos iniciais do filme não são escritos, mas narrados, para antecipar o clima de leitura proibida. Nesse momento, são mostradas várias antenas de TV nas casas. O ator Oskar Werner se desentendeu com o diretor, e mudou o cabelo na última cena só para gerar um erro proposital de continuidade. Entre as obras queimadas durante uma ação dos bombeiros, podem-se ver Fahrenheit 451 — o que deu origem ao filme — e a revista Cahiers du Cinéma, revista na qual escrevia o diretor.
Confira Otelo, de William Shahespeare:
A tragédia Otelo, de William Shakespeare, foi publicada pela primeira vez por volta de 1622. No entanto, sua composição é datada de 1604. O seu personagem principal, que empresta o nome a obra, é um general mouro que serve o reino de Veneza.Toda história gira em torno da traição e da inveja. Inicia-se com Iago, alferes de Otelo, tramando com Rodrigo uma forma de contar a Brabâncio, rico senador de Veneza, que sua filha, a gentil Desdêmona, tinha se casado com Otelo. Iago queria vingar-se do general Otelo porque ele promoveu Cássio, jovem soldado florentino e grande intermediário nas relações entre Otelo e Desdêmona, ao posto de tenente. Esse ato deixou Iago muito ofendido, uma vez que acreditava que as promoções deveriam ser obtidas "pelos velhos meios em que herdava sempre o segundo o posto doprimeiro"e não por amizades.Brabâncio, que deixara a filha livre para escolher o marido que mais a agradasse, acreditava que ela escolheria, para seu cônjuge, um homem da classe senatorial ou de semelhante. Ao tomar ciência que sua filha havia fugido para se casar com o Mouro, foi à procura de Otelo mata-lo. No momento em que se encontraram, chegou um comunicado do Doge de Veneza, convocando-os para uma reunião de caráter urgente no senado.Durante a reunião, Brabâncio, sem provas, acusou o Mouro de ter induzido Desdêmona a casar-se com ele por meio de bruxarias. Otelo, que era general do reino de Veneza e gozava da estima e da confiança do Estado por ser leal, muito corajoso e ter atitudes nobres, fez, em sua defesa, um simples relato da sua história de amor que foi confirmado pela própria Desdêmona. Por isso, e por ser o único capaz de conduzir um exercito no contra-ataque a uma esquadra turca que dirigia-se à ilha de Chipre, Otelofoi inocentado e o casal seguiu para Chipre, em barcos separados, na manhã seguinte.Durante a viagem uma tempestade separou as embarcações e, devido a isso, Desdêmona chegou primeiro à ilha. Algum tempo depois, Otelo desembarca com a novidade que a guerra tinha acabado porque a esquadra turca fora destruída pela fúria das águas. No entanto, o que o Mouro não sabia é que na ilha ele enfrentaria um inimigo mais fatal do que os turcos.Em Chipre, Iago que odiava a Otelo e a Cássio, começou a semear a sementes do mal, ou seja, concebeu um terrível plano de vingança que tinha como objetivo arruinar seus inimigos. Hábil e profundo conhecedor da natureza humana, Iago sabia que, de todos os tormentos que afligem a alma, o ciúme é o mais intolerável.Ele sabia que Cássio, entre os amigos de Otelo, era o que mais possuía a sua confiança. Sabia também que devido a sua beleza e eloqüência, qualidades que agradam às mulheres, ele era exatamente o tipo de homem capaz de despertar o ciúme de um homem de idade avançada, como era Otelo, casado com uma jovem e bela mulher. Por isso, começou a realizar seu plano.Sob pretexto de lealdade e estima ao general, Iago induziu Cássio, responsável por manter a ordem e a paz, a se embriagar e envolver-se em uma briga com Rodrigo, durante uma festa em que os habitantes da ilha ofereceram a Otelo. Quando o mouro soube do acontecido, destituiu Cássio de seu posto.Nessa mesma noite, Iago começou a jogar Cássio contra Otelo. Ele falava, dissimulando um certo repudio a atitude do general, que a sua decisão tinha sido muito dura e que Cássio deveria pedir a Desdêmona que convencesse Otelo a devolver-lhe o posto de tenente. Cássio, abalado emocionalmente, não se deu conta do plano traçado por Iago e aceitou a sugestão.Dando continuidade a seu plano, Iago insinuou a Otelo que Cássio e sua esposapoderiam estar tendo um caso. Esse plano foi tão bem traçado que Otelo começou adesconfiar de Desdêmona.Iago sabia que o mouro havia presenteado sua mulher com um velho lenço de linho, oqual tinha herdado de sua mãe. Otelo acreditava que o lenço era encantado e, enquanto Desdêmona o possuísse, a felicidade do casal estaria garantida. Sabendo disso e após ter encontrado o lenço que Desdêmona perdera, Iago disse a Otelo que sua mulher havia presenteado o seu amante com ele. Otelo, já enciumado, pergunta a sua esposa sobre o lenço e ela, ignorando que o lenço estava com Iago, não soube explicar o que aconteceu com ele. Nesse meio tempo, Iago colocou o lenço dentro do quarto de Cássio para que ele o encontrasse.Depois, Iago fez com que Otelo se escondesse e ouvisse uma conversa sua com Cássio. Eles falaram sobre Bianca, amante de Cássio, mas como Otelo que só ouviu partes da conversa, ficou com a impressão de que eles estavam falando a respeito de Desdêmona. Um pouco depois Bianca chegou e Cássio deu a ela o lenço que encontrara em seu quarto para que ela providenciasse uma cópia.Vale lembrar que o lenço, era, como todo lenço feminino, fino e delicado, isso significa que quando Otelo o deu Desdêmona, ele não a presenteou com um simples lenço, na verdade o que ele deu à ela foi tudo o que há de mais fino e delicado existente em sua pessoa. Otelo ficou fora de si ao imaginar que Desdêmona havia desprezado tudo isso dando o lenço a um outro homem.As conseqüências disso foram terríveis: primeiro Iago, jurando lealdade a seu general, disse que, para vinga-lo, mataria Cássio, mas sua real intenção era matar Rodrigo e Cássio simultaneamente porque eles poderiam estragar seus planos. No entanto, isso não ocorreu conforme suas intenções, Rodrigo morreu e Cássio ficou apenas ferido.Depois Otelo, totalmente descontrolado, foi a procura de sua esposa acreditando que ela o havia traído e matou-a em seu quarto.Após isso, Emília, esposa de Iago, sabendo que sua senhora fora assassinada revelou a Otelo, Ludovico (parente de Brabâncio) e Montano (governador de Chipre antes de Otelo) que tudo isso foi tramado por seu marido e que Desdêmona jamais fora infiel.Iago matou Emília e fugiu, mas logo foi capturada. Otelo, desesperado por saber que matara sua amada esposa injustamente, apunhalou-se, caindo sobre o corpo de sua mulher e morreu beijando a quem tanto amara.Ao finalizar a tragédia Cássio passou a ocupar o lugar de Otelo, Iago foi entregue as autoridades para ser julgado e Graciano, uma vez que seu irmão Brabâncio morrera, ficou com os bens do mouro.
Citado em sala de aula. Você conhece o livro O Leopardo, de Giuseppe Tomasi Di Lampedusa? E o filme de Visconti? Saiba mais...
Durante a segunda fase da Revolução Industrial em 1850, a sociedade foi profundamente afetada pelo êxodo rural e pelo crescimento da vida urbana, começaram também a formar-se as cidades industriais, a ascensão da classe burguesa, a decadência da nobreza e do clero e a busca de ideais como a liberdade de expressão e a igualdade social. O livro retrata esta mudança no personagem principal, o príncipe Fabrizio Salina que era um nobre da dinastia dos Bourbon. Na Sicília, lugar onde desencadeia os acontecimentos, após a Revolução Industrial, o povo se encontra no estado de miséria, porém a Sicilia se encontra renovada e unida a uma Itália ressurgida.O livro faz refletir e pensar que a sociedade vive em constante transformação e às vezes elas trazem desigualdades sociais. Podemos observar que apesar de todas estas mudanças os interesses e os privilégios precisam estar unidos, ao mesmo ideal de todos, para que toda a sociedade ou apenas a elite de sempre se beneficie, não é no Leopardo que encontramos a frase famosa "Devemos mudar tudo para tudo permanecer como está?". No filme: Sicília, durante o período do "Risorgimento", o conturbado processo de unificação italiana. O príncipe Don Fabrizio Salina (Burt Lancaster) testemunha a decadência da nobreza e a ascensão da burguesia, lutando para manter seus valores em meio a fortes contradições políticas. O diretor Luchino Visconti queria que Laurence Olivier interpretasse o príncipe Don Fabrizio Salina, mas os produtores insistiram que o personagem fosse interpretado por um astro de Hollywood, visando um maior retorno de bilheteria. A versão original de O Leopardo tinha 205 minutos. Porém logo após seu lançamento nos cinemas italianos o diretor Luchino Visconti reeditou o filme, que passou a ter 195 minutos. A versão exibida no Festival de Cannes teve esta duração. Posteriormente Visconti reeditou novamente O Leopardo, que passou a ter 185 minutos. Esta versão foi lançada em DVD no Brasil.
Aproveitando as citações ao famoso crítico literário, encontrei esta entrevista disponível e resolvi compartilhar com os colegas de disciplina:
Harold Bloom é o crítico literário mais popular do mundo. Em 2000, fez furor ao publicar, no The Wall Street Journal, um ensaio em que condenava os livros com o personagem Harry Potter, da inglesa J.K. Rowling. No Brasil, acaba de sair a primeira parte da coletânea Contos e Poemas para Crianças Extremamente Inteligentes (Objetiva, 142 páginas, R$ 21,90). Nela, Bloom coleciona um elenco de textos que considera fundamentais. Seu novo livro, Gênio – Um Mosaico de Cem Mentes Exemplares e Criativas, lançado em 2001, terá edição brasileira em maio. Em quase 1.000 páginas, a obra busca nomes de gênios literários. Bloom falou a ÉPOCA por telefone, de New Haven, Connecticut, onde se recupera de uma operação e prepara dois livros: um sobre o personagem Hamlet e outro sobre o cânone da crítica – do qual ele já faz parte, mas não se inclui.

ÉPOCA – Como o senhor analisa o sucesso da literatura infantil atual?
Harold Bloom – É um fenômeno de mercado. A maior parte dos livros para crianças à venda nas livrarias é idiota, não serve para nada, muito menos para suprir a necessidade de leitura de uma criança ou do leitor de qualquer faixa etária. Livros estão sendo confeccionados para vender e se tornar sucessos no cinema e na televisão. Isso nada mais é que uma máscara que oculta o rosto cada vez mais estúpido da era da informação. Os tais livros infantis ajudam a destruir a cultura literária.
ÉPOCA – Sua opinião mudou em relação à série Harry Potter?
Bloom – Odeio Harry Potter. É bruxaria barata reduzida a aventura. É prejudicial ao leitor. Não tem densidade. A escrita é horrível. Lancei a polêmica, sabendo que eu atuaria como Hamlet, que defronta com um oceano de aborrecimentos. Continuo me incomodando com os fãs do pequeno feiticeiro.

ÉPOCA – Existe solução para incentivar a leitura entre os jovens?
Bloom – Não vejo diferença entre literatura adulta e infantil. Existe, sim, uma diferença essencial entre boa e má literatura. A solução está na boa leitura, em todas as idades. A primeira idéia da coletânea que organizei era criar um compêndio de boa leitura, que se intitularia O Leitor Solitário. Aos poucos, me dei conta de que estava fazendo um livro para jovens, com poemas e histórias simples, sem prejuízo da qualidade. Percebi então que poetas como John Keats e John Donne poderiam servir para alimentar a imaginação da juventude, assim como os contos de C.K. Chesterton e Robert Louis Stevenson.

ÉPOCA – Mas por que existe essa separação entre literatura para pequenos e grandes?
Bloom – Diferenciar livros para crianças e para adultos foi útil na divisão do mercado do século passado, mas hoje encobre um fato muito grave: o de que a estupidez está acabando com a cultura literária. As crianças de hoje não são mais burras que as de antigamente. O problema está em vencer modismos e chamar a atenção para bons exemplos literários. Talvez a queda dos índices de leitura se deva aos maus exemplos que os pais estão dando a seus filhos.
'Lancei a polêmica contra Potter sabendo que, a exemplo de Hamlet, enfrentaria um oceano de aborrecimentos sem acabar com ele. Continuo me incomodando com os fãs do pequeno feiticeiro.'

ÉPOCA – Há uma continuidade entre seus três trabalhos – Angústia da Influência (1973), O Cânone Ocidental (1994) e o recente Gênio?
Bloom – Tenho escrito um só livro, que continua no próximo volume. Talvez por isso eu desagrade aos colegas de universidade. Nunca termino e eles ficam irritados. Minha obra começou com a preocupação de distinguir os poetas fortes dos fracos. Os fortes fundam uma série e brigam entre si. Os fracos são descartados pela história. A literatura não passa de uma luta entre fracos e fortes. A crítica, como gênero literário, envolve batalhas entre bons e maus. Tracei em Angústia da Influência uma genealogia de poetas fortes. A cultura politicamente correta e as feministas detestaram o livro, alegando que eu privilegiava autores mortos, brancos e ocidentais. Dos anos 70 para cá, os valores da cultura literária estão se diluindo e maus autores passam a virar importantes quando não são. Por isso resolvi estabelecer um cânone, uma lista de obras fundamentais. Gênio consiste em um mosaico de referência pessoais. Para mim, a leitura é um gesto particular. Minha função como crítico literário é oferecer um conhecimento menos teórico do que prático da literatura. Meu objetivo é levar as pessoas a ler.

ÉPOCA – Como recuperar o conceito de genialidade em tempos tão céticos como os de hoje?
Bloom – A noção de gênio está fora de moda há muito tempo na universidade, desde meados do século XIX. Os intelectuais a desprezam, por ser um resquício do espiritualismo romântico. Estou tentando restaurar uma idéia arraigada na história do Ocidente há milênios. No livro, tratei de buscar a genealogia dos gênios em todos os tempos e todos os lugares. Resultou no maior volume que já produzi em minha vida, com cerca de 1.000 páginas. E foi mal recebido nos Estados Unidos. Há um preconceito dos intelectuais americanos em relação à genialidade. O que vale aqui é a cultura 'do homem comum'. Genialidade é algo antipático para a cidadania americana. Gênio é uma palavra com duplo sentido e vem dos gregos, fundamentando nossa tradição cultural. Tanto designa uma família de escritores talentosos ao longo da História, ligados por características semelhantes, como indica o daemon, a entidade divina da inspiração que todos carregamos dentro de nós. É um conteúdo sagrado que não podemos ignorar de forma alguma, mesmo que os acadêmicos insistam que ele não existe.
ÉPOCA – Quem são os grandes gênios da literatura?
Bloom – Escritores como Shakespeare, Dante, Cervantes e Milton não têm rival na história literária. São escritores tão fortes que suas obras e personagens alteraram os rumos da história literária futura. Continuamos vivendo sob seu impacto. Eles são dotados de poderes literários extraordinários. Chamá-los de gênios, portanto, é fazer-lhes justiça.
'Leio em português com alguma fluência. Machado de Assis figura entre meus autores favoritos de língua portuguesa. Considero Machado o maior gênio da literatura brasileira do século XIX'
ÉPOCA – O senhor costuma dizer: 'Shakespeare lê você de um modo muito mais completo do que você pode lê-lo'. Isso não é subestimar a capacidade do leitor?
Bloom – Não. O que quero dizer é que a leitura de um gênio como Shakespeare proporciona diversos registros. O iluminista Samuel Johnson, um de meus críticos favoritos, dizia que o leitor comum pode aproveitar Shakespeare a seu modo, no estágio intelectual em que se encontra. A leitura que ele fizer de uma peça como Hamlet terá sido válida se ele tirar proveito dela. Os grandes gênios são espelhos nos quais os leitores se miram e acabam encontrando a si próprios.

ÉPOCA – O que define um gênio?
Bloom – É o autor capaz de mudar a História. Aliás, não acredito em História. Para mim, só existem biografias. As obras literárias não podem ser consideradas apenas como meras manchas nas páginas do tempo. Em tal corrente de biografias estendidas através da linha cronológica, existe uma família de iluminados que compartilham características como naturalidade, intensidade, exuberância e loucura. Gênios são aqueles que não se submetem às leis de seus predecessores.

ÉPOCA – O senhor inclui autores orientais em Gênio?
Bloom – Tentei ampliar o cânone incluindo agora também Oriente, Norte e Sul. Selecionei 100 autores geniais contra os 26 que havia escolhido para O Cânone Ocidental. Na nova lista está, por exemplo, a escritora japonesa Murasaki Shikibu (973-1025). Ela guarda um ar de família com Jane Austen quando escreve histórias sobre o desprezo amoroso. Também incluí a Bíblia e o Alcorão. Nestes tempos em que as religiões orientais são satanizadas, acho fundamental chamar a atenção para a qualidade literária de Maomé. O Alcorão é um dos mais belos poemas que conheço. As tradições se mesclam. A Bíblia, que foi escrita por muitos autores, e o Alcorão fazem parte de uma tradição comum, o cânone mundial.

ÉPOCA – O senhor cita Fernando Pessoa entre os grandes escritores no Cânone Ocidental. Agora inclui Machado de Assis. Por que ele é gênio?
Bloom – Leio em português com certa fluência. Gosto muito de José Saramago, somos bons amigos, embora eu não concorde com a posição dele em relação à guerra contra o terrorismo. Ele é comunista, respeito as idéias dele, mas não concordo. É um bom escritor. Em poesia, a língua portuguesa legou Camões e Fernando Pessoa. Na ficção, adoro Eça de Queirós e Machado de Assis. Considero Machado o maior gênio da literatura brasileira do século XIX. Ele reúne os pré-requisitos da genialidade: exuberância, concisão e uma visão irônica ímpar do mundo. Procuro um grande poeta brasileiro vivo. Ainda não o encontrei. Conheço Carlos Drummond de Andrade e ouvi falar de Guimarães Rosa, que adoraria ler. Não sei se terei tempo.
Machado de Assis:
O ano de 2008 promete entrar na história nos estudos machadianos. O centenário da morte de Joaquim Maria Machado de Assis, em 29 de setembro próximo, será o motivo para a publicação de livros, a realização de debates e inspira a microssérie que a TV Globo planeja para julho - Capitu, adaptação de Dom Casmurro assinada por Euclydes Marinho, que terá direção de Luiz Fernando Carvalho, no âmbito do Projeto Quadrante (que estreou em 2007 com a adaptação de romance de Ariano Suassuna). O centro das celebrações será a Academia Brasileira de Letras (ABL), fundada por Machado de Assis há 110 anos.A publicação da correspondência de Machado, organizada pelo acadêmico Sérgio Paulo Rouanet, será um dos pontos altos do ano. Com muitas cartas inéditas, o epistolário sairá em dois volumes. De abril a novembro, a Casa de Machado também realiza ciclo de 20 conferências sobre o escritor, em que participarão, além dos acadêmicos, estudiosos brasileiros e estrangeiros como Gustavo Franco, Helder Macedo, Antônio Maura, Jean-Michel Massa e John Gledson.A Academia fechou também convênio com o MinC para lançar todos os livros do autor a preços populares (que deverão custar entre R$ 3 e R$ 5). No fim do ano, a ABL vai publicar um dicionário sobre a obra de Machado de Assis, sob direção de Ubiratan Machado. No mercado editorial, no segundo semestre, a Nova Aguilar publicará, em três volumes, a obra completa do autor.O trabalho se baseia na primeira edição da obra completa na Aguilar, organizada há quase 50 anos - e que hoje em dia está desatualizada e tem erros que agora serão corrigidos. “Nesse período, muita coisa se descobriu sobre Machado. Além de novos textos de sua autoria, a fortuna crítica se enriqueceu. Tudo isso estará na nova edição”, afirma o editor Sebastião Lacerda.Em fevereiro, a editora Record entra nas celebrações com a publicação de Almanaque Machado de Assis - Vida, obra, curiosidades e bruxarias literárias, organizado por Luiz Antônio Aguiar. “Espero que 2008 também entre na história como o ano em que as pessoas ganharam maior intimidade com a obra de Machado e passaram a ter menos medo dela. Seu texto é elegante, mas não hermético. Machado queria ser lido”, diz Aguiar, que também vai publicar, em parceria com Cesar Lobo (na arte), versão em quadrinhos de “O alienista”, pela Ática. Aguiar, entre outras coisas mais, organiza para a Record livro em que 12 autores recriarão contos de Machado.
Confira Juno, um dos filmes indicados ao Oscar 2008:
Juno é um filme canadense-americano de 2007 dirigido por Jason Reitman e escrito pela iniciante Diablo Cody, lhe rendendo o Oscar de melhor roteiro original. O filme desenvolve-se em torno de um enredo bastante sarcástico, abordando de forma peculiar a problemática da gravidez na adolescência. Apreciado pela crítica no seu geral, o filme foi um êxito de bilheteiras, com lucros dez vezes superiores aos custos. As nomeações deste filme nao têm parado, BAFTA, Screen Actors Guild Awards, Golden Globe e Oscar, todas as academias a reconhecer a beleza desta comédia independente.O filme trata de uma adolescente de 16 anos chamada Juno MacGuff (Ellen Page) que após descobrir estar grávida de 9 semanas de Paulie Bleeker (Michael Cera), um colega de liceu(escola), pondera várias soluções à sua situação. À princípio ela opta pelo aborto mas uma decisão de última hora a faz mudar de idéia, decidindo então pela adopção. Com a ajuda de sua melhor amiga Leah (Olivia Thirlby), Juno procura em um classificado de um periódico pais adotivos que lhe parecem ideais. Junto com seu pai, Mac (J.K. Simmons), visita os possíveis pais adotivos da criança, Mark e Vanessa Loring (Jason Bateman e Jennifer Garner), e firmar o acordo da adoção. Com o passar do tempo, Mark e Juno acabam tornando-se amigos, com diversos interesses em comum. Complicaçoes surgem, desde a sua vida na escola, passando pela sua vida familiar até sua vida amorosa. Uma historía típica de humor negro e com um discurso bastante real e comum, fazendo dos 9 meses da gravidez da Juno uma verdadeira lição de vida.

terça-feira, 18 de março de 2008

Você sabe quem é Mário Prata?
Mario Alberto Campos de Morais Prata é natural de Uberaba (MG), onde nasceu no dia 11 de fevereiro de 1946. Foi criado em Lins, interior de São Paulo. Com 10 anos de idade já escrevia "numa velha Remington no laboratório de meu pai (...) crônicas horríveis, geralmente pregando a liberdade e duvidando da existência de Deus". Nesse período de sua vida era o redator do jornalzinho de sua classe na escola. Sendo vizinho de frente do jornal A Gazeta de Lins, com 14 anos começou a escrever a coluna social com o pseudônimo de Franco Abbiazzi. Passou, com o tempo, a fazer de tudo no jornal, desde editoriais a reportagens esportivas e artigos de peso. O escritor Sérgio Antunes, seu amigo nessa época, disse que Mário era um molecote de "voz de taquara rachada e aparelho nos dentes ". Além de escrever Mário se dedicava ao tênis e, defendendo o Clube Atlético Linense, acabou sendo o campeão noroestino infantil na década de 60. Lia tudo o que lhe caia nas mãos, em especial as famosas revistas da época "O Cruzeiro" e "Manchete", que traziam em suas páginas os melhores cronistas da época como Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, Henrique Pongetti, Rubem Braga, Millôr Fernandes e Stanislaw Ponte Preta, uma vez que em Lins, naquela época, "não chegavam os grandes clássicos", como disse o autor. Daí a forte influência que os citados cronistas tiveram em seu estilo.Aos 16 anos recebe um convite de Roberto Filipelli, que foi depois diretor da Globo em Londres, para fazer com ele o "Jornal do Lar ". Samuel Wainer, vislumbrando seu grande talento, levou-o, nessa época, para escrever no jornal "Última Hora". Mário comenta: "Meus pais chamavam aquilo que eu escrevia de bobageiras e me previam um péssimo futuro. Medicina, Engenharia, Direito ou Banco do Brasil (eles queriam). E nada de estudar filosofia ou letras: coisa de veado". O autor acabou trabalhando 8 anos no Banco do Brasil, a exemplo de Jaguar e Stanislaw Ponte Preta — dentre outros, como auxiliar de escrita. Na década de 60, em plena revolução, inicia o curso de Economia na U.S.P. Desse tempo relembra: "a gente se orgulhava: a gente era comunista! (...) um dia o DOPS chegou lá e levou a gente. Todo mundo preso, orgulhoso ". Apesar da opinião contrária dos familiares e dos amigos, e movido pela vontade cada vez maior de ser escritor, resolveu pedir demissão do Banco do Brasil e abandonar a faculdade de Economia. A partir de então vem obtendo sucesso com inúmeros livros, novelas, peças, roteiros, etc., tendo sido agraciado com diversos prêmios nacionais e internacionais.