domingo, 27 de abril de 2008

Juiz determina que hackers leiam obras clássicas para serem libertados
Redação Portal IMPRENSA

Um juiz federal do Rio Grande do Norte determinou uma condição inédita para conceder a liberdade provisória a três jovens acusados de praticar crimes pela internet. Os rapazes terão que ler e resumir, a cada três meses, dois clássicos da literatura.
As primeiras obras escolhidas pelo juiz Mário Jambo, 49, foram "A hora e a vez de Augusto Matraga", conto de Guimarães Rosa, e "Vidas Secas", de Graciliano Ramos.
Os acusados Paulo Henrique da Cunha Vieira, 22, Ruan Tales Silva de Oliveira, 23, e Raul Bezerra de Arruda Júnior, 30, foram liberados na última quinta-feira (17), após nove meses presos por envolvimento na Operação Colossus, da Polícia Federal.
A operação, deflagrada em agosto de 2007, investiga uma suposta quadrilha que roubava senhas bancárias pela internet. Foram cumpridos 29 mandados de prisão no Rio Grande do Norte, São Paulo, Rio de Janeiro, Ceará e Paraíba.
Ao conceder a liberdade provisória aos três jovens, o juiz listou 12 condições, como não freqüentar casas de prostituição, lan houses e salas de bate-papo virtual. Jambo, que há três anos atua como juiz federal, disse que a Justiça precisa sair da "mesmice".
Os três rapazes aceitaram as condições e já estão soltos. Como os jovens são peritos em internet, o magistrado determinou que os relatórios sobre as obras deverão ser feitos pelos jovens de próprio punho.
Sobre a escolha das obras de Ramos e Rosa, o juiz destacou o caráter educativo. "Nada como ler um 'Vidas Secas' para perceber o que é vida dura, o que é necessidade de dinheiro."
"A decisão [judicial] foi uma forma de integrá-los à sociedade e uma redenção, porque já não há educação no Brasil. Uma decisão dessas favorece jovens a utilizar a inteligência para fins positivos", finalizou Jefferson Witame Gomes Júnior, advogado de Oliveira.
As informações são da Agência Brasil.
Acesse o portal sobre prêmios literários:


Site completo sobre o tema !!!
Faz alguns anos que a universidade, face a face com os produtos mais degenerados da distorcida educação pré-universitária de nosso país, começa a pensar com seus botões se ela própria não estaria contaminada pelo processo de degeneração, sofrendo interferências do despreparo de seus alunos, egressos de um segundo grau que perdido o norte, perdeu também o rumo...Não faz tanto tempo que Osman Lins, de certa maneira traumatizado por uma experiência docente universitária escreveu os antológicos ensaios que, reunidos em Problemas inculturais brasileiros, incluem uma espécie de radiografia de um curso de letras: curso cujo perfil oscila entre um Kafkiano Gregor Samsa acordando atônito transformado em barata e as pirandelianas personagens em busca de seu autor.Em outro registro, mas com o mesmo tema, repetem-se, de ano para ano, na época dos vestibulares, os artigos de jornal onde as impudicícias sintáticas dos vestibulandos acrescidas de seus delírios ortográficos, além de venderem jornal, traçam uma espécie de escândalo hipócrita do decoro, que tampa os olhos e impreca quando forçado a olhar-se no espelho, sob a luz forte de letras, lingüística e congênere, jamais sentimos necessidade de explicitar que tipo de habilidade específica precisa ter um cidadão para ser viável e produtivo seu ingresso num curso superior de Letras. Mas não sabemos isso talvez porque também não saibamos exatamente que tipo de habilidade específica tem o cidadão que, após quatro anos de estudo, sai deste abençoado curso onde exercemos nossas atividades de docência e pesquisa.Mas os tempos mudam, e a universidade quer chamar a si, agora, a responsabilidade do vestibular.Muito bem. Atitude sobre todas louvável. Louvabilíssima, até. Mas que só terá influência positiva na estrutura educacional brasileira se no fôlego que tomar para o desempenho desta sua nova função, reconhecer humildemente que nos últimos tempos, seu currículo institucional não lhe augura um desempenho muito brilhante destas novas funções.Vejamos, por exemplo, como vão os cursos de letras. Aqui, o despreparo do corpo docente para além de saraus lítero gramaticais manifesta-se, por exemplo, nas polêmicas geradas por dois anteprojetos de um curriculum para o curso de letras, onde vezes sem conta interesses particulares se antepuseram aos gerais: mais gramática normativa e menos lingüística ou vice-versa; igualdade entre a literatura brasileira e a portuguesa bertas pela expressão curso de letras restou um papel secundário: na sinfonia do vestibular, cabe-lhes (quando solicitados) elaborar algumas questões relativas a esta ou àquela parte do programa e, a partir de 78 (ano em que os vestibulares passaram a incluir redação e algumas respostas expositivas) a correção de um certo número de provas, no prazo e com os critérios estabelecidos pelas entidades responsáveis pela organização dos exames.Não é necessária muita sofisticação para identificar a inevitável reificaçao do saber avaliando em tal estrutura, onde as várias etapas do processo são autônomas, e onde os critérios de quantificação recobrem todos os outros.Numa espécie de linha de montagem, algumas instituições dessas que organizam vestibulares, acabaram por criar uma espécie de baco de questões que já testadas e aprovadas, podem integrar tanto o vestibular de Oceanografia de Caetetuba Paulista quanto o de Educação Física de Sarapalha de São Tomé.Esta, por assim dizer, conivência com que a universidade conviveu durante bons anos com esta distorcida visão de avaliação de língua e de literatura se acentua ainda mais no caso dos cursos de letras, se observarmos que, enquanto algumas faculdades e institutos de Artes e de Arquitetura, por exemplo, somavam às provas comuns, exames específicos para sua área, nós ou o tratamento da segunda como "estrangeira" exemplificam tópicos de discussão onde, mais do que o perfil de um curso de letras menos ou mais desejável, estava em jogo a manutenção do emprego de cada um.Além disso, nas centenas de cursos de letras reconhecidos em território nacional, a disparidade dos currículos é de endoidar ainda mais o crioulo da música: afora as componentes mínimas definidas pelo Conselho Federal de Educação, o resto são franjas que, quando não atendem aos interesses da rede particular, desenham-se ao sabor das fantasias e dos poderes da autoridades locais: disciplinas voltadas para literaturas estaduais disputam espaço com diferentes dosagens e concepções de teorias literárias, tornando muito difícil, senão impossível, pensar nos cursos de letras como uma estrutura orgânica.Outro sintoma ainda do despreparo institucional dos cursos de letras para um diálogo mais efetivo com os graus de escolaridade pré-universitários através de um substancial alteração dos exames vestibulares é seu absoluto descaso pela efetiva profissionalização de seus alunos: as matérias de licenciatura, por exemplo, confinam-se à faculdade de Educação, numa assumpção cômoda de que o saber ensinar é uma técnica, e que nada tem em comum como que ensinar. Por outro lado, mas no mesmo sentido, a pouca familiaridade dos cursos de letras com questões propriamente educacionais se manifesta, por exemplo, no gesto largo com que letrados autênticos dão de ombros e fazem muchochos de pouco caso quando se discute a formação profissional do professor de literatura, a leitura no curso primário, literatura infantil, e quejandas miudezas.No entanto, esta gritante e enorme omissão da universidade nos rumos assumidos pela educação brasileira ao longo dos anos 60 foi, de certa maneira compensada no interior de algumas universidades e no recesso de alguns poucos departamentos, que sob a forma de dissertações de mestrado e teses de doutoramento, através da participação em simpósios e congressos questionavam o ensino de língua e de literatura.E muito embora os novos rumos que a universidade quer agora traçar para si não sejam fruto direto destes esforços isolados, é nestes esforços que a universidade precisa apoiar-se para cumprir estas novas funções que, com razão, reivindica para si. E a aprendizagem pode começar com algumas perguntas de cujas respostas dependerá a filosofia que presidirá aos exames vestibulares de Comunicação e Expressão.Que práticas de produção de textos são essenciais para alunos que se profissionalizarão na pesquisa e no magistério da língua e da literatura? Respondendo, talvez a esta pergunta, se pode estabelecer como requisito mínimo para ingresso num curso superior que o aluno seja competente no uso da modalidade escrita; competente como emissor e como receptor. Estabelecendo, ainda, que a capacidade de recepção que se quer não é a de recepção passiva, mera reprodução ou paráfrase, mas uma recepção ativa na qual o receptor se posicione face ao texto lido, discutindo suas premissas, avaliando sua argumentação, aceitando-o ou recusando-o. Em uma palavra, quer-se uma recepção que faculte ao leitor o exercício da interlocução. Posto isso, a próxima questão incide sobre a validade dos testes de múltipla escolha para avaliação deste tipo de competência; eles permitem avaliar práticas efetivas de linguagem ou apenas avaliam uma interlocução passiva, uma vez que ao responder questões formuladas através de alternativas mutuamente exclusivas o aluno nunca toma a palavra: tem apenas de colar-se à interlocução que, com o texto, estabeleceu o organizador da questão? Nesse sentido, os tradicionais exercícios de interpretação, compreensão ou interlecçao de textos são exemplares: mascaram, no paráfrase que pedem que o aluno reconheça, a noção de compreensão de que partem. Assumem a compreensão de um texto como sua reprodução, ficando, portanto, além de uma atividade de linguagem significativa. Mas se isto já se é sério quando aplicado a um texto qualquer, isto é seríssimo quando se trata de literatura. Vejamos como e porquê. O que o vestibular de literatura avalia, nos moldes atuais, é o mero reconhecimento, entre as alternativas propostas, daquela que, sobre o assunto mencionado na formulação da questão, apresenta as informações que sobre tal assunto, o aluno recebeu através de manuais didáticos, apostilas, aulas expositivas, fichas de avaliação de leitura, e o resto da parafernália em que se apoiam cursos de literatura a nível de segundo grau. O mesmo ocorre com as questões que prevêem respostas expositivas: a literatura presente no vestibular (e portanto endossada pela universidade que nela se fia para selecionar seus alunos) se confunde com o reconhecimento (ou atribuição, no caso de perguntas que prevêem respostas expositivas) mecânico de características de estilo reduzidas a rótulos: dar o título de uma obra a partir de alguns personagens ou excertos; identificar um autor a partir de excertos, títulos, problemática predominante ou personagens. E assim por diante. Nenhuma das operações mentais que os vestibulares de literatura exigem, exige mais do que operações computadorizáveis. Prescindem, geralmente da leitura de obras literárias propriamente ditas e reduzem os textos de história, crítica e teoria da literatura a estereótipos e chavões, como o confirmam as recomendações que, nas vésperas das provas, professores de cursinhos grandes fazem pela imprensa. Recomendações eficientíssimas, e que geralmente acertam na mosca. Ao patrocinar questões deste tipo, essa imagem da literatura vai, retroativamente modelar o ensino de segundo grau. E não só dele, mas de toda a escola pré-universitária.
A imagem de literatura construída por livros didáticos, apostilas, suplementos de trabalhos é a imagem de literatura que a universidade cobra de seus postulantes que, portanto, têm de ser iniciados nela pela escola. E como a escola é um dos poucos espaços onde ocorre a leitura - em particular a leitura dos "clássicos literários" sobre os quais se fazem as questões de vestibular - esta imagem da literatura é a única que vige. Mas será que ela vige só no lado de fora da universidade. Será que há duas literaturas? Uma configurada pelos conteúdos e metodologias dispensados a esta disciplina no segundo grau, e outra configurada pelas metodologias e conteúdos que configuram os currículos dos cursos universitários de Letras? Se a literatura de que trata a universidade é tão diferente da literatura ensinada no segundo grau, como é possível que alunos, avaliados pelo vestibular atual acompanhem e sejam aprovados em cursos de Letras tal como a universidade os organiza? E que talvez a vigência desta literatura instituição ocorra também no interior da universidade... E extremamente preocupante, se verdadeira, esta hipótese de que os cursos universitários reproduzem o ensino de literatura do segundo grau. Reproduzem aprimorando, é verdade: o instrumental de análise é mais sofisticado, as categorias são multiplicadas e mais afinadas, a historização do literário se aprofunda, o córpus sobre o qual se debruça é ampliado. Mas é uma mímese, embora às avessas. As avessas porque na hierarquia das instituições culturais, a universidade ocupa um patamar superior ao da escola de segundo grau. É inclusive, devido a este poder maior de que ela dispõe que ora se postula a força de sua interferência no ensino de segundo grau, através de uma alteração dos vestibulares. No caso particular da literatura, os vestibulares dos últimos anos têm, bem ou mal, se apropriado do discurso que sobre literatura, transita na universidade. De forma evidentemente desasada empobrecida, o que se faz no segundo grau em nome da literatura é um simulacro, uma paródia das teorias e das histórias da literatura que se formulam e circulam no interior da universidade e em suas adjacências. E também uma relação especular entre o ensino de 2o. e de 3o. graus o que se depreende das constantes solicitações do corpo discente dos cursos de letras, sempre queixosos: ora de que o que estudam na universidade nada tem a ver com o que vão ensinar quando formados, ora na reivindicação de cursos de análise sintática ou literatura infantil no currículo, uma vez que são esses os conteúdos de que se ocuparão em seus futuros e mal pagos empregos de professores de primeiro e segundo grau. A circularidade do processo parece absoluta. E, como já se disse, o vestibular permite uma contemplação privilegiada dela, uma vez que suas questões, organizadas por delegação das várias universidades e com o concurso de alguns de seus membros, devem, por força de lei, pautar-se pelos programas do segundo grau. O que se cumpre religiosamente, como os resultados conhecidos de todos. Por isso, o mea culpa que a universidade ora ensaia pode ricochetear, e é bom que ricocheteie. No exame de consciência que precede a confissão e a penitência, a universidade vai descobrir-se e nesta descoberta talvez a assustem algumas de suas práticas. Por exemplo, o caráter institucional da literatura que ela ensina. Melhor dizendo, a irremediável institucionalização da literatura através de seu ensino. Se não, vejamos: Não obstante noções como estranhamento desfamiliarização, polissemia, ruptura e/ou ampliação de horizonte de expectativas sejam constantes em todas as formulações teóricas modernas que se ocupam da literatura, tais posturas, por fundarem o literário num campo de inseminação que termina por instabilizá-lo, problematizam de forma radical o ensino da literatura.Este começa por estabilizar seu objeto e por apresentar como imanentes as categoria com que opera, por naturalizar seu constructo e por desfigurar na infinitude das interpretações que postula - o caráter histórico de todas suas formulações. Inclusive e principalmente de seu diálogo com a fortuna crítica de um dado autor e de uma dada obra, ou de todo um gênero ou período de estilo que é, necessariamente o ponto de partida de qualquer interpretação literária nova que se queira "audível" para a comunidade de especialistas.A história literária, por exemplo, tal como ela existe na prática escolar, acaba por precipitar uma espécie de "desistorizaçao" do texto. História literária, nas escolas de segundo grau e mesmo num bom número de cursos de letras nada mais é do que um alinhavado de episódios históricos, configurações sociais, nomes de autores e de obras dos quais, graças a uma espécie de princípio de contiguidade emerge, por postulado, um tipo qualquer de relação entre a série literária e as outras.Machado de Assis, por exemplo. O que ele é, nesta história literária, além de monumento vernáculo, é um arremedo do diálogo que a didatização estabelece entre as antigas interpretações machadianas de Sílvio Romero e José Veríssimo, as mais recentes de Lúcia Miguel Pereira e Augusto Mayer e as moderníssimas de Roberto Schwarz e Ismael Cintra.Como no melhor dos casos, a escola apenas informa os alunos destas leituras, mesmo a história literária fica reduzida a uma espécie de coquetel para menores que, se não capazes de provar o vinho autêntico, devem então contentar-se com uma aguada sangria.Resta saber se a auto-referência e a polissemia passam incólumes pelo crivo da escola. Talvez não passem. E talvez não possam passar.Por isso a universidade talvez também não possa e nem deva abrir mão das interpretações da literatura que ela patrocina e põe em circulação. Sem elas, a universidade talvez emudecesse. O que ela pode e deve abrir mão é da capa de neutralidade, naturalidade e transparência com que costuma revestir tais interpretações. E então, ao invés de delirar alto quando se propõe a interferir no ensino de 2o. grau, pode modestamente limitar sua ambição pela fidelidade a seu modo de ser, ao modo de ser de sua relação com a literatura. E em vez de aderir a propostas ingênuas de "leitura livre e criativa" ou "interpretação pessoal", admita que os leitores que ela forma são leitores cuja subjetividade é fortemente marcada pela história de leituras de que cada texto foi objeto, e cuja criatividade se manifesta na interação de uma leitura nova com as outras que um texto já recebeu.Pois, muito mais do que o patrocínio de novos e instigantes trabalhos sobre este ou aquele autor, sobre esta ou aquela obra, sobre este ou aquele gênero, o compromisso da universidade com literatura é que, só através dela, se pode conhecer melhor um determinado tipo de discurso, de alta valorização social, e que tem tido seus códigos e suas convenções constantemente "invisibilizados" pelos predicados que a teoria e a critica literária têm reivindicado para si.E para que um vestibular seja coerente com esta forma de ver a função da literatura num curso de letras, ele precisa avaliar a capacidade de o candidato dialogar tanto com o discurso crítico e teórico que sobre a literatura se tece, quanto com os textos literários propriamente ditos. Na área de literatura, o avanço do conhecimento se dá no diálogo que, estabelecendo-se situacionalizado com a fortuna crítica estabelecida, afina-a, modaliza-a, reescreve-a. E afinando-a modalizando-a, reescrevendo-a, abre perspectivas maiores de conhecimento de uma prática social antiga, mas que tem regras muito precisas no nosso hoje. Regras, já se vê das quais a universidade é cúmplice. E se talvez lhe seja proscrita a ruptura com a cumplicidade, a explicitação dela já basta como primeiro passo para exorcizar a alienação.


Mulheres de Atenas: A Escrita Poética de Todas Nós
Um passeio pela criatividade feminina Quais são as estratégias necessárias para a reescrita dos múltiplos lugares do feminino no mundo contemporâneo? Como falar desta mulher que devora espaços no mercado de trabalho, abraça, materna e quer ser feminina, fêmea, verdadeiramente única e múltipla em cada uma de suas várias facetas? Como ser esta mulher sem se perder em tantos atalhos, sem perder a sua essência criativa? A partir desta reflexão, uniram-se uma Doutora em Literatura, Lívia Natália e uma jornalista e terapeuta, Victória Gramacho, ambas poetas, abrindo um círculo de discussão criativa com mulheres. O objetivo desta palestra é mostrar que você, mulher poeta, e mesmo que ainda assim não se reconheça e nem saiba que é poeta, pode tecer os seus fios criativos, resgatar a sua palavra de força, a sua delicadeza e suas esperanças, levando a este dia a ! dia múltiplo, de tantas e inúmeras facetas, a qualidade criativa que faz a diferença.
ONDE?
Auditório da Saraiva Megastore, no Shopping Salvador. QUANDO? Dia 4 de Maio de 2008, às 17hs. MAIS INFORMAÇÕES WWW.femininamente.blogspot.com 96040757 ou 99554229 livianataliass@gmail.com vic-gramacho@uol.com.br
Uma importante base de pesquisa para saber o que as Universidades do país estão cobrando em seus vestibulares. Como professor, não deixe de avaliar:


A riqueza da literatura ao seu alcance
O Literatura Vestibular 2008 nasceu para ajudá-lo a enfrentar o desafio do ingresso na faculdade. Nosso objetivo, porém, vai além: queremos mostrar um pouco da riqueza do mundo da escrita em língua portuguesa, incentivando-o a conhecer diretamente as obras. Vale muito a pena!Nesta publicação, apresentamos a você as mais importantes escolas literárias do Brasil e de Portugal e trazemos a síntese de 30 obras cujo conhecimento é exigido nos vestibulares. A edição é enriquecida pelas biografias dos autores, por trechos comentados dos livros e por indicações de filmes e quadrinhos baseados em obras consagradas. As sínteses aqui apresentadas não poderiam, nem pretendem, substituir a leitura dos livros. Seu objetivo é contextualizar as obras e apresentar suas referências históricas e sociais.
Algumas dicas de apresentação de trabalhos acadêmicos:
REDAÇÃO E LINGUAGEM

O conhecimento científico surge dos diferentes modos de produção do conhecimento e do uso que se faz dele. O progresso científico está atrelado a circulação e ao uso efetivo das idéias, já que a informação constitui a um só tempo insumo e produto de toda atividade científica.
Escrever é uma decorrência natural do estudo e da pesquisa e requer metodologias relacionadas a elaboração e apresentação dos processos organizacionais e técnicos.
Os Trabalhos Acadêmicos-científicos (TACs), são documentos que apresentam o resultado formal de um estudo ou investigação científica. São elaborados observando os mesmos princípios, porém diferem quanto a natureza e aos objetivos.
São considerados TACs: Trabalho de Graduação Interdisciplinar (TCI), Trabalho de Conclusão de Cursos de aperfeiçoamento e especialização (TCC)
, Dissertação, Tese.
Para a redação devem ser observadas as características da linguagem científica como:
Exatidão = precisão conceitual e terminológica.
Clareza = idéias expressas sem ambigüidade, uso vocabulário adequado, frases curtas.
Simplicidade e Objetividade = assuntos tratados de maneira direta e simples.
Coerência = seqüência lógica e ordenada na apresentação das idéias.
Impessoalidade = evitar o uso da primeira pessoa plural e singular.
Recomenda-se o uso do verbo na terceira pessoa, evitando-se pronomes da primeira pessoa tanto no plural quanto no singular (Adotar ...procurou-se analisar os resultados ... e não ...procuramos analisar os resultados...).
É importante lembrar que o uso do vocabulário adequado e de frases, sem verbosidade, facilita a leitura e prende a leitura do leitor.

1 ASPECTOS NORMATIVOS E GRÁFICOS – ABNT - NBR 14724 ago 2002

O texto deve ser digitado no anverso da folha em papel branco, de boa qualidade, formato A4 (21 cm X 29,7 cm) e impresso na cor preta, com exceção das ilustrações.
Recomenda-se para digitação a adoção de fonte tamanho 12.
O projeto gráfico é de responsabilidade do autor do trabalho. O importante é manter a uniformidade em todo o trabalho.
As folhas devem apresentar margens esquerda e superior de 3 cm e direita e inferior de 2 cm.
Todo o texto deve ser digitado com espaço duplo.
Usa-se espaço simples para:
- citações longas,
- notas de rodapé,
- entre as linhas de uma referência,
- legendas das ilustrações e tabelas,
- ficha catalográfica.

Na folha de rosto, a natureza do trabalho, o objetivo, o nome da instituição, e a área de concentração devem ser digitadas em espaço simples e alinhadas ao meio da folha para a margem direita.
Os títulos das subseções devem ser separados do texto que os precede e que os sucede por dois espaços duplos.
O indicativo numérico de uma seção precede seu título, alinhado à esquerda, separado por um espaço.
(1 INTRODUÇÃO).
A paginação deve ser colocada em evidência, preferencialmente no ângulo superior, dentro da margem direita, em algarismos arábicos não se usando nenhum tipo de pontuação ou sinal antes ou após o número. Todas as páginas são computadas, porém a numeração aparece efetivamente a partir da segunda página do texto.
As referências bibliográficas, ao final do trabalho, devem ser digitadas na margem esquerda usando espaço simples (um) entre as linhas e espaço duplo entre elas. Os elementos componentes das referências são separados entre si por espaço.
Usam-se letras maiúsculas para:
- Sobrenome de autor,
- Primeira palavra da referência quando a referência começa pelo título,
- Nomes de entidades coletivas,
- Entradas de eventos e congressos,
- Nomes geográficos quando se tratar de Instituições Governamentais da administração direta.
Os títulos sem indicativo numérico devem ser centralizados. (Sumário, Tabelas, Resumo, Referência, Apêndice, Anexo)
As abreviaturas, quando citadas no texto pela primeira vez, devem vir precedidas do nome e entre parênteses. ( Organização das Nações Unidas (ONU).)


2 ESTRUTURA DOS TRABALHOS ACADÊMICOS-CIENTÍFICOS (TAC)
ABNT - NBR 14724 ago 2002


A estrutura dos TACs compreende elementos pré-textuais, textuais e pós- textuais.
· Elementos pré-textuais: Elementos que antecedem o texto com informações que ajudam na identificação e utilização do trabalho.
Capa: Contém dados que identificam o documento: autoria, título e outros dados à critério do autor. È a proteção externa do trabalho.
Folha de Rosto: Contém os elementos essenciais que identificam o trabalho. Apresenta no alto da página o nome do autor, a seguir o título do documento em destaque no centro da página. Incluir nota explicativa referente ao nível a que se destina o trabalho, com destaque para a área de Concentração, Unidade, Orientador e Instituição. Centrados na parte inferior os dados referentes as notas tipográficas (Local, Instituição e Ano), um em cada linha.
Folha de Aprovação: Deve conter data de aprovação, nome completo dos membros da banca examinadora e local para assinatura dos mesmos.
Páginas Preliminares: Páginas que antecedem ao sumário.
· Dedicatória: Texto no qual o autor presta uma homenagem ou dedica seu trabalho a alguém.
· Agradecimentos: Manifestação de agradecimento a pessoas e instituições que, de alguma forma, colaboraram para a execução do trabalho.
· Epígrafe: Folha na qual o autor apresenta uma citação, seguida da indicação da autoria, relacionada com a matéria tratada no corpo do trabalho.
Resumo: É a recapitulação sucinta das partes mais importantes do texto. É obrigatório em dissertações, relatórios, teses e artigos de revistas. Redigido pelo próprio autor em linguagem clara, concisa, direta contendo no máximo 500 palavras. Deve ressaltar o objetivo, o método, a técnica, o resultado e as conclusões do trabalho. Recomenda-se evitar abreviaturas, fórmulas, equações e diagramas que não sejam absolutamente necessários à compreensão, bem como palavras ou expressões supérfluas como: -“O presente estudo trata de...”. Dar preferência a terceira pessoa do singular e ao verbo na voz ativa. Não utilizar frases negativas, símbolos, contrações e parágrafos. Localiza-se antes das Listas e do Sumário e apresenta a referência bibliográfica no alto da folha.
Listas: Relação de elementos ilustrativos e/ou explicativos.
Sumário: Listagem com a indicação do conteúdo do documento. Mostra as divisões e seções do texto na mesma seqüência e grafia adota na redação. Usa-se o termo SUMÁRIO e não ÍNDICE.
· Elementos textuais: É o núcleo dos trabalhos acadêmicos, é nesta parte que o autor apresenta a matéria.
Introdução: Parte inicial do texto, elaborada de forma clara e precisa, onde devem constar a delimitação do assunto, objetivos e outros dados necessários sobre o tema pesquisado. Seu objetivo principal é situar o leitor no contexto da pesquisa, levando-o a perceber claramente o que será analisado, como e por que as limitações foram encontradas, o alcance da investigação e suas bases teoricas gerais, sem contudo repetir ou parafresear o resumo, nem dar os dados sobre a teoria experimental, o método ou os resultados, nem antecipar as conclusões e as recomendações contidas no estudo.
Alguns autores preferem abrir uma seção só para revisão de literatura. Ela deve vir após a introdução e antes do desenvolvimento e os dados apresentados em ordem cronológica.
Desenvolvimento: Parte principal do texto, que contém a exposição ordenada e pormenorizada do assunto. Divide-se em seções e subseções, que variam em função da abordagem e do tema.
Conclusão: Parte final do trabalho, na qual se apresentam conclusões correspondentes aos objetivos ou hipóteses. O autor apresenta seu ponto de vista sobre os resultados obtidos. Nesta etapa não é permitida a inclusão de dados novos.
· Elementos pós-textuais: São materiais complementares, que tem por finalidade documentar ou esclarecer o texto, no todo ou em parte, sem contudo integrá-lo.
Referências Bibliográficas: Conjunto de elementos padronizados que permite identificar os documentos que foram utilizados na redação do texto.
Anexos e Apêndices: Documentos complementares e/ou comprobatórios do texto com informações esclarecedoras, colocados à parte, para não “quebrar” a seqüência lógica da exposição. Quando há mais de um, cada anexo deve conter ao alto da página a palavra ANEXO, numerado sucessivamente em algarismo arábico.
· Apêndice: Texto ou documento elaborado pelo autor, a fim de complementar sua argumetnação, sem prejuízo da unidade do trabalho.
· Anexo: Todo documento não elaborado pelo autor que serve de fundamentação, comprovação e ilustração.


3 CITAÇÕES EM DOCUMENTOS – ABNT - NBR 10520 ago 2002


Citações são pensamentos, conceitos, definições retirados das publicações consultadas para a realização do trabalho.
Tem por objetivo esclarecer ou complementar as idéias do autor, informando obrigatoriamente a fonte onde foi retirada a informação. Devem ser indicadas no texto por um sistema de chamada, que será mantido ao longo de todo o trabalho.
Todos os trabalhos citados devem, obrigatoriamente, constar da lista de referências bibliográficas
Sistemas de chamadas no texto
As citações devem indicadas no texto por um sistema numérico ou alfabético.
· Sistema numérico
A indicação da fonte é feita por uma numeração única e consecutiva, em algarismo arábicos, remetendo à lista de referências bibliográficas na mesma ordem que aparecem no texto. Podem vir entre parênteses, alinhado ao texto ou sobrescrito, após a pontuação que fecha a citação.
Na listagem de referência os trabalhos são relacionados por ordem que aparecem no texto.
Diz Rui Barbosa: “Tudo é viver, previvendo.” (15) ou
Diz Rui Barbosa: “Tudo é viver, previvendo.” 15
O nome do autor pode, em alguns casos, não aparecer, sendo citada apenas a idéia ou pensamento, seguido da indicação numérica.
Entretanto, o modelo de Cumming e Richards12
... dados então existentes para a fabricação do medicamento...1

Sistema alfabético (autor-data)
A indicação da fonte é feita pelo sobrenome de cada autor ou pelo nome de cada entidade responsável, seguida da data de publicação, separados por vírgula e entre parênteses.
Na listagem de referência bibliográfica os trabalhos são organizados alfabeticamente.
Merrian e Caffarella (1991, p.32) observaram que a localização de recursos tem papel crucial no processo de aprendizagem dirigida.
“Comunidade tem que poder ser intercambiada em qualquer circunstância, sem quaisquer restrições estatais, pelas moedas dos outros Estados-membros.” (COMISSÃO DAS COMUNIDADES EUROPÉIAS, 1992, p.s34).


TIPOS DE CITAÇÃO

· Citação direta
São citações diretas aquelas que reproduzem literalmente o texto original.
A extensão de uma citação determina sua localização no texto. Se tiver até três linhas, deve ser incorporada ao parágrafo; sendo mais extensa, deve ser apresentada abaixo do texto, em bloco recuado, sem necessidade de aspas.
- Com até três linhas devem vir entre aspas duplas.
“Não se mova, faça de conta que está morta.” (CLARAC; BONNIN, 1985, p.104)
- Com mais de três linhas, são transcritas em bloco e destacadas com recuo de 4 cm da margem esquerda, com letra menor que a do texto utilizado e sem as aspas, constituindo um parágrafo único.
Os agentes antidepressivos (em geral TCA) são frequentemente utilizados na tentativa de suicídio, de modo que seus efeitos tóxicos agudos constituem um assunto de importância prática. (RANG et al, 2001, p.94).

· Citação de citação

A transcrição de um texto ao qual não se teve acesso ao documento original. Só deve ser utilizada na total impossibilidade de acesso ao documento original.
No texto, a citação de citação obedece a ordem: autor do documento não consultado seguido da expressão “apud” (que significa conforme, citado por) e autor da obra consultada.
Benfey (1976, p.57) citado por Solomons (1982, p.79) ou (BENFEY, 1976, p.57 apud SOLOMONS, 1982, p.79)
A referência bibliográfica, neste caso, inicia pelo autor do documento não consultado seguido dos dados do documento original. Os dois trabalhos são listados; na letra “B” o trabalho do BENFEY e na letra “S” o SOLOMONS.

ENFEY, O T. The names and strutures of organic compounds. New
York : Wiley, 1976 apud SOLOMONS, T.W.G. Química orgânica. Rio
de Janeiro, LTC, 1982. v.1.Na letra “B”
SOLOMONS, T.W.G. Química orgânica. Rio de Janeiro, LTC, 1982. v.1.Na letra “S”

· Citações indiretas


Reproduz idéias da fonte consultada sem, no entanto transcrever o texto. O uso de aspas é dispensável.
O Brasil representa, para estes, importante fonte financeira para pagamento de suas importações de bens de consumo. (SILVA, 1999, p.43)
Segundo Costa e Couto (1997, p.23), há uma relação da qualidade do café com os diversos constituintes físico-químicos reponsáveis pelo aroma e sabor característicos da bebida.


· Observações
- Dados obtidos por informação verbal (palestras, debates, comunicações etc.) ou dados de trabalhos em fase de elaboração, indicar, entre parênteses informação verbal ou em fase de elaboração e mencionar os dados disponíveis, em nota de rodapé.
No texto: O novo medicamento estará disponível até o final deste semestre.
(informação verbal)1


1Notícia fornecida por John A Smith no Congresso Internacional de Engenharia Genética, em
Londres, em outubro de 2001.
- Citações indiretas de diversos documentos de diversos autores, mencionados simultaneamente, devem ser separadas por ponto-e-vírgula, em ordem alfabética.
Diversos autores salientam a importância do “acontecimento desencadeador” no início de um processo de aprendizagem (CROSS,1984, p.58; KNOX, 1986;p.29; MEZIROW,1991, p.33).
- Quando o autor for incluído no texto ele deve ser grafado em letras minúsculas, com a data e a página entre parênteses.
Em Teatro Aberto (1963, p.76) relata-se a emergência do teatro do absurdo.
- Quando houver coincidência de sobrenome de autores acrescentar as iniciais do prenome.
(BARBOSA, C., 1988,p.67) (BARBOSA, O. 1934, p.32)
- Citação de diversos documentos do mesmo autor com datas diferentes, separar por vírgula da mais antiga para mais atual.
(DREYFUSS, 1989, 1991, 1995).
- Quando houver mais de um trabalho do mesmo autor, publicados no mesmo ano, distingüir pelo acréscimo de letras minúsculas, em ordem alfabética, após a data, sem espaçamento, conforme a lista de referências.
De acordo com Reeside (1927a, p.154)... Ou ...(REESIDE, 1927b, p.13).
- No caso de documentos sem indicação de autoria ou responsabilidade, citar pela primeira palavra do título seguida de reticências .
No texto ...(ANTEPROJETO ..., 1987, p.57)
Na listagem de referência:
ANTEPROJETO de lei. Estudos e debates, Brasília, n.13,p.51-60, jan.1987.
- Se optar pelo sistema de chamada numérico a listagem de referência bibliográfica deve estar organizadaconforme a ordem de citação dos autores no texto e numeradas.
- Quando utilizar mais de um autor para redigir um parágrafo, separar por ponto-e-vírgula.
(CLARAC; BONNIN, 1985, p.280; DERRIDA, 1967,p.31; RIBEIRO et al., p.22)
-Quando o autor for uma entidade coletiva conhecida por sigla. Na primeira vez que for citar adotar o nome por extenso seguido da sigla, nas citações subsequentes somente a sigla.
A TAB.1 confirma os dados apresentados anteriormente. (INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE,1975).
- A alfabetação dos autores segue a ordem alfabética, e dentro da ordem alfabética a ordem cronológica

sábado, 19 de abril de 2008


Lista dos Clássicos da Literatura enviada pela Profª Drª Eliana Mara:

eja a seguir uma lista com os 30 melhores romances brasileiros de todos os tempos
1. Grande Sertão: Veredas (1956) - Guimarães Rosa

2. Dom Casmurro (1900) - Machado de Assis

3. Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881) - Machado de Assis

4. Macunaíma (1928) - Mário de Andrade

5. Triste Fim de Policarpo Quaresma (1915) - Lima Barreto

6. Quincas Borba (1892) - Machado de Assis

7. Memórias de um Sargento de Milícias (1854-55) - Manuel Antônio de Almeida

8. Vidas Secas (1938) - Graciliano Ramos

9. São Bernardo (1934) - Graciliano Ramos

10. Memórias Sentimentais de João Miramar (1924) - Oswald de Andrade

11. A Hora da Estrela (1977) - Clarice Lispector

12. A Paixão Segundo G.H. (1964) - Clarice Lispector

13. Serafim Ponte Grande (1933) - Oswald de Andrade

14. O Ateneu (1888) - Raul Pompéia

15. O Tempo e o Vento (1949 - 1961) - Érico Veríssimo
16. Fogo Morto (1943) - José Lins do Rego

17. Esaú e Jacó (1904) - Machado de Assis

18. A Menina Morta (1954) - Cornélio Penna

19. Menino de Engenho (1932) - José Lins do Rego

20. Os Ratos (1936) - Dyonélio Machado

21. Iracema (1865) - José de Alencar

22. O Amanuense Belmiro (1937) - Cyro dos Anjos

23. Corpo de Baile (1956, 3 volumes) - Guimarães Rosa

24. Angústia (1936) - Graciliano Ramos

25. O Cortiço (1890) - Aluísio Azevedo

26. O Quinze (1930) - Rachel de Queiroz

27. Água Viva (1973) - Clarice Lispector

28. Crônica da Casa Assassinada (1959) - Lúcio Cardoso

29. Mar Morto (1936) - Jorge Amado

30. Terras do Sem Fim (1942) - Jorge Amado

CORREIOS

SISTEMA ABERTO DE SELEÇÃO DE PATROCÍNIOS

Área Pretendida:
HUMANIDADES – EVENTO LITERÁRIO E PROGRAMA DE INCENTIVO À LEITURA

Nome do Projeto:
CORREIO LITERÁRIO


Proponente:
ATALHO PRODUÇÕES ARTÍSTICAS LTDA.


Realização
Alunos da disciplina “Literatura Brasileira Contemporânea”, do Instituto de Letras da Universidade Federal da Bahia.

Abril/2008

PROJETO CORREIO LITERÁRIO


1. INTRODUÇÃO – A DRAMÁTICA SITUAÇÃO DA LEITURA E DA ESCRITA NO PAÍS


O IBOPE, por meio do Instituto Paulo Montenegro, realiza anualmente pesquisas para definir o painel de alfabetismo no Brasil, através de um indicador chamado INAF – Indicador de Alfabetismo Funcional. O indicador mensura os níveis de alfabetismo funcional da população brasileira entre 15 e 64 anos de idade, englobando residentes de zonas urbanas e rurais de todas as regiões do Brasil, quer estejam estudando quer não. O último levantamento, feito em 2007, aponta as seguintes conclusões principais:

“A maioria dos brasileiros (64%) entre 15 e 64 anos que estudaram até a 4ª série atinge no máximo o grau rudimentar de alfabetismo, ou seja, localizam somente informações explícitas em textos curtos e efetuam operações matemáticas simples, mas não compreendem textos mais longos nem definem estratégias de cálculo para resolução de problemas.
E ainda mais grave: 12% destas pessoas podem ser consideradas analfabetas absolutas em termos de leitura/escrita, não conseguindo codificar palavras e frases, mesmo que simples, além de terem dificuldade em lidar com números em situações do dia-a-dia.
Dentre os que cursam da 5ª a 8ª série, apenas 20% podem ser considerados plenamente alfabetizados e 26% ainda permanecem no nível rudimentar, com sérias limitações.
Enquanto 47% dos que cursaram ou estão cursando o Ensino Médio atingem o nível pleno de alfabetismo, esperado para este grau de escolaridade, outros 45% ainda permanecem no nível básico.
Somente entre aqueles que atingem ou completam o Ensino Superior observa-se uma maioria (74%) com pleno domínio das habilidades de leitura/escrita e das habilidades matemáticas.”

Diante da gravidade da situação, o Governo Federal, por meio de uma ação conjunta entre os Ministérios da Cultura e da Educação, criou o Plano Nacional do Livro e Leitura (PNLL), que é um conjunto de projetos, programas, atividades e eventos na área do livro, leitura, literatura e bibliotecas em desenvolvimento no país, empreendidos pelo Estado (em âmbito federal, estadual e municipal) e pela sociedade. O PNLL baseia suas ações em quatro “Eixos Estratégicos”:

A - A democratização do acesso (implantação de novas bibliotecas, fortalecimento da rede atual de bibliotecas, conquista de novos espaços de leitura, distribuição de livros gratuitos e outros);

B - O fomento à leitura e a formação de mediadores (formação de mediadores de leitura, projetos sociais de leitura, sistemas de informação nas áreas de bibliotecas, prêmios às ações de incentivo às práticas sociais de leitura e outras);

C - A valorização da leitura e comunicação (ações para criar consciência sobre o valor social do livro e da leitura e outras);

D - O desenvolvimento da economia do livro (desenvolvimento da cadeia produtiva do livro e fomento à distribuição, circulação e consumo de bens de leitura).


2. O PROJETO CORREIO LITERÁRIO.

Os alunos da disciplina Literatura Brasileira Contemporânea do Instituto de Letras da Universidade Federal da Bahia se organizaram e decidiram propor um projeto que pretende contribuir na solução da questão da leitura, pelo menos em relação aos itens B e C citados no parágrafo anterior.

Estão previstas várias ações de estímulo à leitura, e o pensamento geral é que o local mais adequado para a realização do evento seria o Shopping Center Piedade (Salvador, BA), por sua localização, pela proximidade com várias escolas de ensino médio e fundamental das redondezas e pela quantidade de público circulante no local (de 60 a 80 mil pessoas diariamente).

Além da tentativa de obtenção do patrocínio junto aos Correios, já foram tomadas algumas iniciativas na busca de outros apoios, principalmente de órgãos ligados à questão do livro. Já temos sinalização de apoio da Fundação Pedro Calmon (órgão da Secretaria da Cultura do Estado responsável pela política do livro, bibliotecas e arquivos públicos da Bahia) e do Instituto de Letras da Universidade Federal da Bahia.

Os benefícios institucionais do empreendimento são inegáveis, pois cremos que qualquer projeto de incentivo à leitura terá a simpatia da sociedade.


3. DESCRIÇÃO DO PROJETO

O projeto prevê ações de estímulo à leitura, que seriam realizadas em uma das praças do Shopping Center Piedade, em Salvador (BA), com o desenvolvimento das seguintes atividades principais:

a. Programas de estímulo à leitura – Ações na praça do shopping

· Distribuição de folhetos de divulgação nas áreas de acesso ao shopping Center;
· Instalação de estande para recepção de livros doados;
· Oficinas de leituras de contos e crônicas de grandes nomes da literatura brasileira;
· Recitais de poesia com grupos dedicados ao tema;
· Saraus lítero-teatrais com temas de estímulo à leitura;
· Instalação de painéis alusivos ao tema de estímulo à leitura;
· Instalação de painéis em homenagem ao centenário da morte de Machado de Assis;
· Instalação de “varais culturais”, onde seriam pendurados textos de crônicas, contos e poesias de autores brasileiros mais consagrados, para distribuição gratuita aos interessados.

Nota: Os livros recebidos em doação serão encaminhados à Fundação Pedro Calmon, órgão responsável pelas bibliotecas públicas do Estado da Bahia.

b. Programas de estímulo à leitura: Concurso Literário:

Realização de concurso de contos/crônicas e poesia, destinados a estudantes do ensino médio (segundo grau).
Os trabalhos seriam analisados por três jurados (professores do Instituto de Letras da UFBA), que escolheriam os três primeiros colocados nas duas categorias. Os prêmios seriam:

- 1º lugar: um computador portátil (laptop)

- 2º lugar: uma máquina fotográfica digital

- 3º lugar: uma coleção das Obras Completas de Machado de Assis.

Nota: Os prêmios serão entregues até 30 dias após o final do evento, para que os jurados possam analisar as obras, provavelmente num evento no Instituto de Letras da UFBA.
c. Programa de estímulo à leitura – Correio Literário

Nessa atividade, estamos sugerindo aos Correios que, durante o período da realização do evento, toda remessa/doação de livros por pessoas físicas seja feito gratuitamente (se a legislação permitir, ou então sob a forma de “carta social”). Assim, qualquer pessoa física que desejasse remeter um livro para outra pessoa física ou fazer uma doação para alguma biblioteca ou instituição não pagaria as despesas de remessa pelos Correios.
Outra ação de marketing sugerida seria a criação de cartões postais (similares aos feitos pelos Correios na época do Natal) com textos literários de autores brasileiros, e que também seriam remetidos gratuitamente.


d. Selo comemorativo

Outra sugestão é a criação pelos Correios de um selo comemorativo do centenário da morte de Machado de Assis, no dia 19 de setembro de 2008, o que daria um peso mais significativo ainda ao evento.

4. PERÍODO DE REALIZAÇÃO:

A proposta é realizar o evento durante quatro dias, no período de 17 a 20/09/2008, para coincidir com as comemorações do centenário da morte do escritor Machado de Assis (19 de setembro de 1908).

5. DIVULGAÇÃO:

- Distribuição de releases para os principais órgãos de imprensa;

- Divulgação no âmbito da Universidade Federal da Bahia;

- Distribuição de cartazes nas universidades e escolas de ensino médio;

- Distribuição de folhetos nas áreas de acesso ao shopping Center;

6. CONTRAPARTIDAS.

- Ganhos institucionais e de imagem para os Correios, devido à visibilidade do projeto, com o apelo institucional de uma ação voltada para a difusão do livro;

- Integração da Universidade, do Poder Público, estudantes e público em geral;

- Divulgação da logomarca dos Correios em todas as peças de divulgação e de difusão do livro (cartazes, folhetos, painéis);

- Divulgação e citação da marca em todas as matérias jornalísticas e de divulgação (releases).


7. CUSTOS DO PROJETO:

O total do custo previsto para o Projeto Correio Literário é de
R$ 29.424,08 (vinte e nove mil e quatrocentos e vinte e quatro reais e oito centavos).
A demonstração detalhada está na Planilha de Custos em anexo.

8. ANEXOS:

ANEXO 1 - Relação dos alunos participantes
ANEXO 2 - Planilha de Custos
ANEXO 3 - Ficha de Inscrição


PROJETO CORREIO LITERÁRIO

ANEXO 1

RELAÇÃO DOS ALUNOS PARTICIPANTES


Disciplina: Literatura Brasileira Contemporânea
Professora: Profa. Dra. Eliana Mara Chiossi


1. Andréia M. Guimarães
2. Antônio Carlos Monteiro Teixeira Sobrinho
3. Clara Fernandes
4. Edilaine Gomes do Nascimento
5. Galbenia dos Santos Grego
6. Gislene Ramos do Nascimento
7. Isabel Rabelo Mendes
8. Izabel Moreno
9. Juliana O Esquives
10. Lessandra da França Ramos
11. Mariluce Bonfim Lemos
12. Maria Elisabeth Chaves Santos
13. Maria Joana Dourado Guerra
14. Milena R. Aires Carvalho
15. Nivaldo Oliveira Lariú
16. Rená Andrade Dourado
17. Sabrina Jesus Borges
18. Viviane Leita Macias
PROJETO CORREIO LITERÁRIO
PLANILHA DE CUSTOS
1. Aluguel de estande (4 m2) para recepção de livros doados
R$ 1.500,00
2. Confecção de 10.000 folhetos para divulgação, para distribuição no shopping
R$ 1.000,00
3. Confecção de 10 painéis (90x140cm, tipo banner) sobre literatura, para o local do evento
R$ 1.500,00
4. Confecção de 200 cartazes para divulgação no shopping e na Universidade
R$ 1.500,00
5. Confecção de 100 camisetas para uso do pessoal da organização do evento
R$ 1.000,00
6. Impressão de 1.000 fichas de inscrição para os concursos literários
R$ 200,00
7. Remuneração de três professores/jurados dos concursos literários
R$ 3.000,00
8. Ajuda de custo para quinze estudantes (transporte/alimentação) da organização do evento
R$ 4.500,00
9. Impressão de 3.000 folhetos com crônicas/contos/poesias, para distribuição no shopping
R$ 1.500,00
10. Prêmios para vencedores dos concursos literários
Dois computadores portáteis (laptop)
R$ 5.000,00
Duas câmeras digitais
R$ 2.000,00
Dois conjuntos completos da obra de Machado de Assis
R$ 1.400,00
11. Serviços de sonorização dos ambientes de oficinas literárias
R$ 800,00
12. Material de consumo para uso nas oficinas literárias (papel, cartolina, pincéis, fitas, etc)
R$ 200,00
13. Produção executiva do evento
R$ 3.000,00
Subtotal
R$ 28.100,00
Impostos incidentes a recolher (4,5%)
R$ 1.324,08
TOTAL
R$ 29.424,08

terça-feira, 15 de abril de 2008

Mais uma vez... O que é Cânone?
Termo deriva da palavra grega "kanon" que designava uma espécie de vara com funções de instrumento de medida; mais tarde o seu significado evoluiu para o de padrão ou modelo a aplicar como norma. É no século IV que encontramos a primeira utilização generalizada de cânone, num sentido reconhecidamente afim ao etimológico: trata-se da lista de Livros Sagrados que a Igreja cristã homologou como transmitindo a palavra de Deus, logo representado a verdade e a lei que deve alicerçar a fé e reger o comportamento da comunidade de crentes. Após a rejeição de certos livros denominados apócrifos, o cânone bíblico tornou-se fechado, inalterável, distinguindo-se neste aspecto do outro referente do cânone teológico, o conjunto de Santos Padres a que a Igreja Católica periodicamente acrescenta novos indivíduos através de um processo chamado canonização. Importante para a história posterior do conceito é, pois, a ideia de que canónica é uma selecção (materializada numa lista) de textos e/ou indivíduos adoptados como lei por uma comunidade e que lhe permitem a produção e reprodução de valores (normalmente ditos universais) e a imposição de critérios de medida que lhe possibilitem, num movimento de inclusão/exclusão, distinguir o legítimo do marginal, do heterodoxo, do herético ou do proibido. Neste sentido, torna-se claro que um cânone veicula o discurso normativo e dominante num determinado contexto, teológico ou outro, e é isso que subjaze a expressões como "o cânone aristotélico", "cânones da crítica", etc.
Acompanhando o processo de secularização da cultura em marcha desde o Renascimento, o conceito e o termo vieram progressivamente a ser aplicados ao domínio da literatura, muitas vezes sob a forma de expressões como "os clássicos" ou "as obras-primas". No entanto, pode afirmar-se que o núcleo semântico-ideológico posto em uso pela Igreja medieval se manteve relativamente intacto, o que autorizava, por exemplo, Carlyle, no século XIX, a dizer que "Shakespeare e Dante são Santos da Poesia; e, pensando bem, canonizados, pelo que se torna ímpio intrometer-se neles". O cânone literário é, assim, o corpo de obras (e seus autores) social e institucionalmente consideradas "grandes", "geniais", perenes, comunicando valores humanos essenciais, por isso dignas de serem estudadas e transmitidas de geração em geração. Tal definição é válida, quer se trate de um cânone nacional, onde se presume que o povo se reconhece nas suas características específicas, quer se trate do cânone universal (de Homero a...), o que significa de facto, dada a própria origem histórica da categoria literatura, um cânone eurocêntrico ou, quanto muito, ocidental.
É possível fazer remontar o estabelecimento do cânone literário enquanto instituição social à escolarização da literatura moderna, que ocorre durante o século XIX, primeiro à margem das universidades, onde se privilegiava o estudo dos clássicos da Antiguidade canonizados por séculos de imitação e comentário, depois, já no início do século XX, na própria academia, onde se concretizava através de listas de textos a serem lidos e interpretados pelos alunos. Com a generalização da escolaridade obrigatória nas sociedades ocidentais, a escola passou a funcionar como o factor determinante de fixação e transmissão de cânones. Mais recentemente, porém, o conceito de cânone adquiriu visibilidade crítica no seio dos estudos literários organizados como disciplina e acedeu, de forma espectacular, à condição de problema central, não só do campo de conhecimentos, como também da estrutura institucional que o suporta.
Tal fenómeno, que fez do cânone simultaneamente um termo técnico e uma fonte de disputa, tem origens diversas, se bem que inter-relacionadas, entre as quais: a desvalorização da grande literatura como componente do capital cultural das sociedades pós-modernas (obrigada a competir com outros saberes e produtos culturais), a nova reivindicação de representatividade cultural por parte de estratos sociais discriminados (mulheres, minorias étnicas) e a sua repercussão no meio académico, a ascensão de modelos funcionalistas e relativistas do conhecimento na filosofia e outras áreas do saber.
Do ponto de vista da teoria literária, este último aspecto é talvez o mais interessante. Refere-se ele a todas as propostas recentes, explicita ou implicitamente inspiradas na filosofia de Wittgenstein, de problematização da concepção essencialista ou ontológica da literatura sobre a qual repousam as noções canónicas e canonizantes da obra de arte imortal, dos valores estéticos universais, etc. Resumindo, é possível provar que a categoria literatura não se define através de propriedades objectivas, referenciais ou formais que distingam de uma vez por todas certos discursos inerentemente literários de outros não-literários. Sendo assim, o literário é uma classificação de uso, descreve todos os discursos que uma comunidade de utentes considera como tal em função de critérios que são antes do mais sociais e históricos, pelo que um texto não nasce necessariamente literário e muito menos canónico, nem tem que se manter perenemente literário, posição esta que tem justificado recentes reivindicações de recanonização e descanonização. Como diz Terry Eagleton, "Tudo pode ser literatura e tudo o que é visto como inalteravel e inquestionavelmente literário, Shakespeare, por exemplo, pode deixar de ser literatura" (Literary Theory: An Introduction, 1983).
Paralelamente a esta afirmação da socialidade e historicidade da categoria literatura, outro desenvolvimento que contribuiu para a relativização do cânone das grandes obras foi a prática - iniciada pelo estruturalismo e pela semiótica, mas já prenunciada pelos Formalistas russos - de estudar, lado a lado com a literatura canónica e em ambiente interdisciplinar, todo o tipo de actos e objectos simbólicos, desde os mitos, os contos populares, a literatura para crianças, a moda, a culinária, a banda desenhada, a publicidade, etc., de modo que nenhum sistema de signos, nenhum género ou tipo de texto, nenhuma forma discursiva é considerado "indigno" de ser investigado ou ensinado. Tal filosofia "descanonizante" preside à metodologia e à prática da nova disciplina de Estudos Culturais, que se tem estabelecido e rapidamente crescido um pouco por todo o mundo, mas com particular expressão nas culturas anglófonas (v. a este respeito Antony Easthope, Literary into Cultural Studies (1991) e "The Death of Literature", Literature Matters, 14 (1993)). Outra área em que se pode verificar o forte impacto do assalto ao cânone tradicional é na reorganização curricular e programática dos cursos universitários. Em "Canons A(nd)Cross-Cultural Boundaries (Or, Whose Canon Are We Talking About?" (Poetics Today, 12 (1991)), Walter Mignolo transcreve a lista de leituras de um curso de humanidades na Universidade de Columbia em 1937, composta por 16 obras da Antiguidade e 19 clássicos da cultura europeia de Stº Agostinho a Goethe, em comparação com a bibliografia activa de um curso sobre "A Europa e as Américas" da Universidade de Stanford em 1988, onde a lógica reside inteiramente na representação da multiplicidade e confrontação de pontos de vista, de modelos textuais e genéricos, de fontes periodológicas e geoculturais.
Do acima exposto decorre que hoje em dia é possível encarar o cânone de dois modos distintos: enquanto objecto de investigação e enquanto tema de controvérsia. 1) Na primeira perspectiva, os conceitos de cânone e canonização têm sido apropriados pelas teorias sistémicas da literatura e da cultura, onde servem para descrever um dos processos privilegiados de funcionamento dos sistemas literários. Um sistema pode ser definido como uma totalidade auto-regulada composta por elementos em inter-relação. De acordo com os estudos empíricos da literatura, com origem na obra do teórico alemão Siegfried Schmidt, são quatro os elementos básicos do sistema de comunicação literária: produtores, intermediários, receptores e agentes de transformação. É a estes últimos (críticos, tradutores, imitadores, adaptadores, etc.) que cabe o papel sistemicamente central de canonizadores. A teoria do polissistema, primeiro desenvolvida em Israel por Itamar Even-Zohar, opera com os conceitos de centro e periferia, respectivamente a literatura canónica, legitimada pelos estratos sociais dominantes e a literatura marginal (popular, de massas, etc.). O acesso ao cânone, fonte de evolução do sistema, faz-se pela migração ou transferência de textos e normas estéticas da periferia para o centro. Finalmente a teoria do sociólogo francês Pierre Bourdieu divide o "campo de produção literária" em dois grandes subsistemas: o campo de produção restrita, que se caracteriza pela denegação "vanguardista" do lucro imediato e das motivações económicas dos produtores, que se dirigem prioritariamente aos seus pares, e o campo de produção em larga escala, impulsionado pelas leis do mercado e produzindo para o público em geral obras de consumo fácil. No campo de produção restrita, a acção sistémica de um certo número de instituições, como as casas editoriais, a crítica, os prémios literários, a escola, é responsável pela "consagração" de autores e de obras, isto é, da sua canonização e sequente estatuto de "mercadorias" economicamente lucrativas. Com base nestes modelos teóricos se tem produzido muita investigação descritiva e empírica sobre a construção de cânones, por exemplo, estudando os critérios do discurso crítico-avaliativo, a constituição diacrónica de um cânone nacional, por vezes com recurso a instrumentos estatísticos. Alguma desta investigação pode ser encontrada na revista Poetics, que se publica em Amsterdão.
2) A segunda perspectiva surge nos anos 80, com particular incidência nos Estados Unidos, em parte por razões intradisciplinares - a imensa influência do discurso teórico na restruturação metodológica e curricular dos estudos literários -e em parte por razões sociais - o acesso à consciência de uma identidade própria por parte de grupos étnica e sexualmente definidos: os afro-americanos, os hispânicos, os homossexuais, as mulheres. É de salientar, a propósito, o êxito com que os estudos feministas arrancaram ao esquecimento dos arquivos tantas obras escritas por mulheres num passado remoto ou recente e que hoje circulam em edições de bolso e são estudadas nas escolas e lidas pelo público em geral.
Neste ambiente multicultural, o cânone das grandes obras e autores é visto como um instrumento de repressão e discriminação ao serviço de interesses dominantes, do poder branco e masculino e de uma ideologia de contornos patriarcais, racistas e imperialistas. A menos radical das reivindicações surge, então, sob a forma de revisão e abertura do cânone a textos representativos de saberes, classes e minorias tradicionalmente excluídos, numa espécie de suprimento da representatividade imperfeitamente assegurada pelas instituições políticas.
Este vasto movimento que vem agitando e transformando as universidades norte-americanas tem sido objecto de análises e críticas provenientes de pontos de vista opostos. A posição mais rigorosa é sem dúvida a de John Guillory que, em Cultural Capital (1993) e em artigos dispersos, argumenta, por um lado, que os defensores da abertura do cânone se esquecem que historicamente a exclusão não é resultado de uma conspiração política da classe dominante, antes ocorre ao nível dos meios de produção cultural, nomeadamente no acesso diferenciado à literacia; por outro, que o ataque à grande tradição é um sintoma do declínio das humanidades no mercado dos valores culturais. Outra posição, esta de contestação ao processo descanonizante, vem de sectores conservadores das próprias universidades, de associações políticas e meios de comunicação social e critica as suas motivações políticas e o que vê como a dissolução moral e pedagógica das instituições escolares, ao mesmo tempo que propõe um regresso à pureza dos valores da civilização ocidental e cristã. O mais influente e interessante porta-voz da atitude pró-canónica é certamente Harold Bloom, que em The Western Canon (1994) defende a supremacia estética de um conjunto de obras constitutivas de um cânone ocidental perene e permanente centrado em Shakespeare, "o escritor mais original que alguma vez conheceremos".
O Cânone e o Século XXI
Como já estamos no século 21, podemos refletir um pouco sobre os grandes escritores do século passado. Já na década de 80 discutia-se entre a crítica literária quem seriam os grandes escritores daquele século em termos de universalidade. Chegou-se a conclusão de que quatro nomes não poderiam faltar a essa lista. Não gostamos de cânones, ou listas, mas elas têm a útil função de chamar a atenção para aqueles autores que pouco damos valor e nos instiga a pensar e comparar. É difícil a arte de comparar, pois ela é totalmente subjetiva, principalmente quando não envolve preços. É claro que, como toda lista, ela é polêmica e pode ter simpatizantes e antipatizantes.Em se tratando de literatura mundial a discussão passa a ser um pouco mais empolgante, pois é-nos impossível ter acesso a todos os livros escritos no mundo no século 20. E se temos acesso à grande parte deles, não conseguimos lê-los todos. Por essa razão também nos fiamos na crítica alheia, para servir de esteio à nossa opinião. A crítica costuma eleger quatro nomes que fizeram significativa diferença para a literatura no século 20. Dentre eles, estão um francês, um irlandês, um alemão e um tcheco. Não é difícil acertar quem são: Marcel Proust, James Joyce, Thomas Mann e Franz Kafka. Não temos como discordar em uma listagem tão apertada como essa. Esses quatro autores são os mais significativos do século 20, sem dúvida. Porém, se pudéssemos acrescentar alguns mais, incluiríamos mais três autores: o português Fernando Pessoa, o japonês Yukio Mishima e o algeriano Albert Camus. Porque esses três são tão significativos? É simples, basta um olhar pela obra desses autores. A poesia de Fernando Pessoa não tem rivalidade desde os tempos de Camões, nem mesmo o nosso grande poeta Carlos Drummond de Andrade chega aos pés de Fernando Pessoa em transcendência artística e universalidade. Ao adotar os heterônimos (mais do que meros pseudônimos) Fernando Pessoa assume personalidade e estilos completamente diversos, profundos, líricos e universais, cada heterônimo à sua maneira. Não dá para mapear a literatura mundial que o sucedeu sem passar por ele. Fernando Pessoa foi um verdadeiro divisor de águas na poesia do século 20. Yukio Mishima talvez seja menos conhecido do público brasileiro, até porque só recentemente apareceram traduções no vernáculo para três de seus livros: "Mar Inquieto", "Confissões de uma Máscara e o Soberbo", "Cores Proibidas" (todas as edições pela Editora Companhia das Letras). A força narrativa e a complexidade dos personagens criados em seus romances mostram porque ele foi um marco, não só para a literatura japonesa, mas também para a literatura mundial.O algeriano Albert Camus consegue passar pelos seus romances toda a dialética de consciência vivida pelos seus personagens. Com uma narrativa forte e ao mesmo tempo fluida, é impossível não ficar perturbado ao ler suas obras. Dentre elas "O Estrangeiro" é a mais significativa e ao retratar as relações entre a França e a Algéria, toca em questões universais como o preconceito e o prejulgamento.O engraçado é que nenhum destes Autores (salvo Thomas Mann, laureado em 1929 e Albert Camus, em 1957) recebeu o Prêmio Nobel de Literatura. Como todas as listas, esta também é sujeita a opiniões divergentes, pois é certo que nem mesmo quem a criou deve estar contente em ter que subtrair vários escritores notáveis do século passado.
XXY
Alex, uma adolescente de 15 anos, carrega um pesado segredo - possui características sexuais de ambos os sexos. Pouco depois de seu nascimento, seus pais decidem sair de Buenos Aires para a costa uruguaia, numa casa perdida entre as dunas. Ali, recebem a visita de um casal de amigos acompanhado de seu filho de 16 anos, Álvaro. O pai, especialista em cirurgia estética, aceitou o convite motivado pelo interesse clínico que tem em Alex. No entanto, nasce uma atração incontrolável entre os jovens, que os obrigará a enfrentar seus medos...

Irina Palm
Maggie está com cerca de 50 anos de idade e leva uma vida tranqüila no subúrbio londrino. Ela é viúva e mãe de apenas um filho. Quando seu neto Ollie é diagnosticado com uma rara doença e tem que ser submetido a um transplante de emergência, Maggie não vê outra possibilidade senão trabalhar em um lugar chamado Mundo Sexy. Só que seu patrão Mickey mostra-se imediatamente atraído por ela.
Tire as suas próprias conclusões. Leia o artigo abaixo:
O rabino máximo dos EUA, Jonathan Sacks, recentemente escreveu: "A existência de um cânone é essencial a uma cultura. Significa que as pessoas compartilham um conjunto de referências e ressonâncias, um vocabulário público de narrativas e discursos". Esta herança compartilhada, segundo ele, está sendo destruída pelo multiculturalismo e pela tecnologia, televisão via satélite e a Internet em particular. Mas o que é um cânone? Precisamos de um? Estaremos sofrendo de "ansiedade canônica"? Por quê?A idéia de um cânone tem uma origem religiosa. No início, a igreja teve que decidir quais dos seus textos eram escrituras sagradas e quais não eram. A decisão era sim ou não: o livro ou estava dentro ou estava fora.Essa noção religiosa logo se misturou com outra tirada da cultura secular: a idéia do gênio. A noção que grandes poetas e músicos são homens destacados é muito antiga. A princípio, pensamos que pessoas especiais recebiam inspiração de fora delas, de um deus ou musa. Mais tarde, o gênio passou a ser visto como uma qualidade inata do artista.Apesar de todo seu apelo emocional, essa idéia parece improvável à luz fria da razão: parece mais plausível supor um espectro mais ou menos contínuo de habilidade criativa do que uma divisão profunda entre o gênio e o resto. Mas, se é assim, podemos nos perguntar por que somos tão atraídos para as noções de gênio e de cânone. A resposta talvez esteja em nossa necessidade de heróis. Aqui entra em cena a situação particular na qual nos encontramos no início do século 21. Vivemos em um mundo sem heróis. A única exceção é Nelson Mandela, e sua canonização é testemunha do vazio que ajuda a preencher. A metade do último século teve homens como Churchill, Mao e De Gaulle que, de um jeito ou de outro, foram grandes figuras. Duas décadas atrás havia líderes como Thatcher, Gorbatchev e novamente Mandela. Hoje, por outro lado, parece que nenhuma das quase 200 nações do mundo é liderada por uma pessoa de qualidade verdadeiramente excepcional. Talvez tenhamos sorte de viver em uma era que pede tecnocratas em vez de titãs, mas algo se perdeu. Nossa era tampouco tem heróis culturais vivos, e não deve ser surpresa se isso levar mais comentadores a colocarem mais peso em nossa herança do passado -ou seja, no cânone.Outra razão para a ansiedade de cânone talvez seja uma sensação que a elite política e a mídia perderam o interesse ou a paciência. Aqui a atitude oficial é curiosamente dúbia. Por um lado, todo mundo elogia o valor das artes: talvez surpreendentemente não seja mais ouvida a voz vigorosa e sem papas na língua que declara que gastar em cultura é desperdício de dinheiro honesto.Por outro lado, o governo defende as artes apenas em termos de vantagem econômica e de utilidade social estreitamente concebidas. A beleza e a glória não são termos do vocabulário político. E não apenas nossos políticos relutam em defender o valor das artes por si mesmas, mas parecem evitar ativamente mostrar um interesse nelas.Sacks está certo em dizer que uma sociedade precisa de referências compartilhadas e ressonâncias, mas não há razão inerente para essas serem da alta cultura. As referências cruzadas precisam evoluir naturalmente, acima de tudo. A maior parte delas deriva da cultura popular, e muitas são como piadas da família. A televisão teve um enorme poder unificador, apesar desse poder agora declinar com a proliferação de canais e novas mídias.Para compreender como um cânone é formado e como pode ser socialmente útil, podemos olhar para outro tipo de canonização, do indivíduo. Os santos mais antigos e mais duráveis não foram criados pelo papa: de alguma forma foram canonizados por um processo compartilhado entre a igreja e o povo. Similarmente, foi uma colaboração obscura entre os intelectuais e o povo que canonizou os grandes escritores.Considere a mais impressionante canonização literária de nossos tempos. Jane Austen sempre foi estimada, mas, nos últimos 15 anos, ela se tornou a romancista inglesa, uma parte inescapável da consciência pública, mais universalmente presente do que qualquer outro autor além de Shakespeare. Em amplo senso os acadêmicos e outros admiram as mesmas coisas em Austen: tramas bem feitas, retrato sensível dos personagens e estudo agudo da interação social. É uma canonização genuinamente popular.Isso significa que não podemos fazer nada sobre nossa condição cultural? Devemos deixar as coisas tomarem seu próprio rumo? Não inteiramente. Há muito que podemos fazer sobre a forma com a qual ensinamos literatura, apesar de ser preciso um equilíbrio entre atrair os jovens pelas obras mais naturalmente agradáveis a eles e afastá-los com trabalhos que podem ser menos atraentes. Devemos ensinar o desenvolvimento de um gosto pessoal: o risco em destacar o cânone demais é que pode nos deixar sempre no alto do Monte Parnaso, exigindo que gostemos daquilo que nos disseram para gostar. Entretanto, sem uma predileção pessoal, não há verdadeiro cultivo.A classe política deve proclamar o valor da cultura por ela mesma. Os que têm entusiasmos culturais devem tirá-los do armário, e o resto, pelo menos fingir. Isso seria a coisa certa a fazer e duvido que votos fossem perdidos. As pessoas, no final, não querem que seus líderes sejam exatamente como elas e, independentemente do que dizem, há bastante evidência que o público ainda gosta de um cavalheiro.Todos nós, inclusive os políticos, devemos parar de procurar uma cultura de "maior denominador comum" e, em vez disso, afirmar que nossa cultura tem base em uma história distinta: do cristianismo e da Bíblia, da Antigüidade greco-romana, Renascença, Reforma e Iluminismo.O rabino superior está certo em dizer que o multiculturalismo foi um desastre. Por um lado porque de fato é monocultural: é uma demanda que todos os países devem ser como os EUA (apesar de sem a devoção dos EUA à nação e à constituição). Por outro, porque inibe a expressão robusta e confiante da cultura da maioria, apesar dessa robustez e confiança darem melhores condições para que culturas de minoria também floresçam.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Texto enviado por e-mail pela Professora Eliana Mara Chiossi

SONHAR EM CASA

Eu venho de muito longe e trago aquilo que eu acredito ser uma mensagem partilhada pelos meus colegas escritores de Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné Bissau e São Tomé e Príncipe. A mensagem é a seguinte: Jorge Amado foi o escritor que maior influência teve na génese da literatura dos países africanos que falam português.

A nossa dívida literária com o Brasil começa há séculos atrás, quando Gregório de Mattos e Tomaz Gonzaga ajudaram a criar os primeiros núcleos literários em Angola e Moçambique. Mas esses níveis de influência foram restritos e não se podem comparar com as marcas profundas e duradouras deixadas pelo autor baiano.

Deve ser dito, (como uma confissão à margem) que Jorge Amado fez pela projecção da nação brasileira mais do que todas as instituições governamentais juntas. Não se trata de ajuízar o trabalho dessas instituições, mas apenas de reconhecer o imenso poder da literatura. Nesta sala, estão outros que igualmente engrandeceram o Brasil e criaram pontes com o resto do mundo. Falo, é claro, de Chico Buarque e Caetano Veloso. Para Chico e Caetano, vai a imensa gratidão dos nossos países que encontraram luz e inspiração na vossa música, na vossa poesia. Para Alberto Costa e Silva vai o nosso agradecimento pelo empenho sério no estudo da realidade histórica do nosso continente.

Nas décadas de 50, 60 e 70, os livros de Jorge cruzaram o Atlântico e causaram um impacto extraordinário no nosso imaginário colectivo. É preciso dizer que o escritor baiano não viajava sozinho: com ele chegavam Manuel Bandeira, Lins do Rego, Jorge de Lima, Erico Veríssimo, Raquel de Queiroz, Drummond de Andrade, João Cabral Melo e Neto e tantos, tantos outros.

Em minha casa, meu pai - que era e é poeta - deu o nome de Jorge a um filho e de Amado a um outro. Apenas eu escapei dessa nomeação referencial. Recordo que, na minha família, a paixão brasileira se repartia entre Graciliano Ramos e Jorge Amado. Mas não havia disputa: Graciliano revelava o osso e a pedra da nação brasileira. Amado exaltava a carne e a festa desse mesmo Brasil.

Neste breve depoimento eu gostaria de viajar em redor da seguinte interrogação: porquê este absoluto fascínio por Jorge Amado, porquê esta adesão imediata e duradoura?

Sobre algumas dessas razões do amor por Amado que eu gostaria de falar aqui. É evidente que a primeira razão é literária, e reside inteiramente na qualidade do texto de escritor baiano.

Eu tenho para mim que o maior inimigo do escritor pode ser a própria literatura. Pior que não escrever um livro, é escrevê-lo demasiadamente. Jorge Amado soube tratar a literatura na dose certa, e soube permanecer, para além do texto, um exímio contador de histórias e um notável criador de personagens. Recordo o espanto de Adélia Prado que, após a edição dos seus primeiros versos confessou "eu fiz um livro e, meu Deus, não perdi a poesia..." Também Jorge escreveu sem deixar nunca de ser um poeta do romance. Este era um dos segredos do seu fascínio: a sua artificiosa naturalidade, a sua elaborada espontaneidade.

Hoje, ao reler os seus livros, ressalta esse tom de conversa intíma, uma conversa à sombra de uma varanda que começa em Salvador da Baía e se estende para além do Atlântico. Nesse narrar fluído e espreguiçado, Jorge vai desfiando prosa e os seus personagens saltam da página para a nossa vida quotidiana. O escritor Gabriel Mariano de Cabo Verde escreveu o seguinte: "Para mim a descoberta de Amado foi um alumbramento porque eu lia os seus livros e estava a ver a minha terra. E quando encontrei o Quincas Berro d'Água eu estava a vê-lo na Ilha de São Vicente, na minha rua de Passá Sabe." Esta familiaridade exisitencial foi, certamente, um dos motivos do fascínio nos nossos países. Os seus personagens eram vizinhos não de um lugar, mas da nossa própria vida. Gente pobre, gente com os nossos nomes, gente com as nossas raças passseavam pelas páginas do autor brasileiro. Ali estavam os nossos malandros, ali estavam os terreiros onde falamos com os deuses, ali estava o cheiro da nossa comida, ali estava a sensualidade e o perfume das nossas mulheres. No fundo, Jorge Amado nos fazia regressar a nós mesmos.

Em Angola, o poeta Mario António e o cantor Ruy Mingas compuseram uma canção que dizia: "Quando li Jubiabá me acreditei Antônio Balduíno. Meu Primo, que nunca o leu ficou Zeca Camarão." E era esse o sentimento: António Balduino já morava em Maputo e em Luanda antes de viver como personagem literário. O mesmo sucedia com Vadinho, com Guma, com Pedro Bala, com Tieta, com Dona Flor e Gabriela e com tantos os outros fantásticos personagens.

Jorge não escrevia livros, ele escrevia um país. E não era apenas um autor que nos chegava. Era um Brasil todo inteiro que regressava a África. Havia pois uma outra nação que era longínqua mas não nos era exterior. E nós precisávamos desse Brasil como quem carece de um sonho que nunca antes souberamos ter. Podia ser um Brasil tipificado e mistificado mas era um espaço mágico onde nos renasciamos criadores de histórias e produtores de felicidade.

Descobríamos essa nação num momento histórico em que nos faltava ser nação. O Brasil - tão cheio de África, tão cheio da nossa língua e da nossa religiosidade - nos entregava essa margem que nos faltava para sermos rio. Falei de razões literárias e outras quase ontológicas que ajudam a explicar porque Jorge é tão Amado nos países africanos. Mas existem outros motivos, talvez mais circunstânciais.

Nós vivíamos sob um regime de ditadura colonial. As obras de Jorge Amado eram objecto de interdição. Livrarias foram fechadas e editores foram perseguidos por divulgarem essas obras. O encontro com o nosso irmão brasileiro surgia, pois, com épico sabor da afronta e da clandestinidade. A circunstância de partilharmos os mesmos subterrâneos da liberdade também contribuiu para a mística da escrita e do escritor. O angolano Luandino Vieira, que foi condenado a 14 anos de prisão no Campo de Concentração do Tarrafal, em 1964 fez passar para além das grades uma carta em que pedia o seguinte:

"Enviem o meu manuscrito ao Jorge Amado para ver se ele consegue publicar lá, no Brasil..."

Na realidade, os poetas nacionalistas moçambicanos e angolanos ergueram Amado como uma bandeira. Há um poema da nossa Noémia de Sousa que se chama Poema de João, escrito em 1949 e que começa assim: "João era jovem como nós João tinha os olhos despertos, As mãos estendidas para a frente, A cabeça projectada para amanhã, João amava os livros que tinham alma e carne João amava a poesia de Jorge Amado." E há, ainda, uma outra razão que poderíamos chamar de linguistica. No outro lado do mundo, se revelava a possibilidade de um outro lado da nossa língua.

Na altura, nós carecíamos de um português sem Portugal, de um idioma que, sendo do Outro, nos ajudasse a encontrar uma identidade própria. Até se dar o encontro com o português brasileiro, nós falavamos uma língua que não nos falava. E ter uma língua assim, apenas por metade, é um outro modo de viver calado. Jorge Amado e os brasileiros nos devolviam a fala, num outro português, mais açucarado, mais dançável, mais a jeito de ser nosso. O poeta maior de Moçambique, José Craveirinha, disse o seguinte numa entrevista: "Eu devia ter nascido no Brasil. Porque o Brasil teve uma influência tão grande que, em menino eu cheguei a jogar futebol com o Fausto, o Leonidas da Silva, o Pelé. Mas nós éramos obrigados a passar pelos autores clássicos de Portugal. Numa dada altura, porém, nós nos libertámos com ajuda dos brasileiros. E toda a nossa literatura passou a ser um reflexo da Literatura Brasileira. Quando chegou o Jorge Amado, então, nós tínhamos chegado a nossa própria casa."

Craveirinha falava dessa grande dádiva que é podermos sonhar em casa e fazer do sonho uma casa. Foi isso que Jorge Amado nos deu. E foi isso que fez Amado ser nosso, africano, e nos fez, a nós, sermos brasileiros. Por ter convertido o Brasil numa casa feita para sonhar, por ter convertido a sua vida em infinitas vidas, nós te agradecemos companheiro Jorge.

Muito obrigado. Mia Couto
Edgar Allan Poe é um escritor clássico de contos muito famosos. Um deles, O Barril de Amontillado base para a fabulosa Lygia Fagundes Telles escrever Venha Ver o Pôr do Sol. Saiba mais sobre este conto: simples e curto, O Barril de Amontillado, de Edgar Alan Poe, é a narrativa da história de uma homem imbuído do desejo de vingança e de emparedar vivo seu desafeto, Fortunato. O início do conto já dá uma mostra do caráter determinado do narrador: Suportei o melhor que pude as injúrias de Fortunato, porém, quando ousou insultar-me, jurei vingança. Essa economia de palavras que por vezes suprime detalhes e descrições acaba por simplificar a narrativa, criando tensão no leitor e surpreendendo-o com a rapidez do desenvolvimento do enredo. Em O Barril de Amontillando o enfoque é dado aos fatos em si e aos condicionamentos psicológicos das personagens. A curiosidade e o envolvimento do leitor com o texto dinâmico fazem com que o conto tenha um "efeito único" quando o enredo chega ao seu clímax. O leitor passa por uma catarse, experimenta os sentimentos das personagens e se identifica com elas.O conto nos traz a percepção de que o protagonista se vingará de um desafeto; no meio, há indícios de como será a vingança; no fim, o protagonista exerce sua vingança lentamente. O leitor acompanha a narrativa duvidando do desfecho anunciado exatamente porque é algo extremamente simples e cruel e, no fim, linha após linha o protagonista simplemente deleita-se ouvindo os últimos suspiros de seu desafeto.