domingo, 30 de março de 2008

Antes de expor o tema das aulas da semana, seguem os links dos blogs da Professora Drª Eliana Mara Chiossi:
Quando se fala cada vez mais de Machado de Assis, a pretexto do cinema, permito-me, com o desrespeito que Deus me deu (inclusive em relação a Ele próprio) falar do Bruxo. Como não sou dos maiores e nem mesmo dos menores admiradores do fundador da Academia Brasileira de Letras (“a Glória que fica, eleva, honra e consola”, eu, hein?) não vou discutir a maciça, impenetrável, inexpugnável web que se criou em torno dele. Nem polemizar com a desconfiança que os maiores erúditos (com acento no ú, por favor) e curiosos têm pra relação equívoca entre Capitu, a “dos olhos de ressaca” (que Machado não explica se era ressaca do mar ou de um porre) e Escobar, o mais íntimo amigo de Bentinho, narrador e personagem principal do livro. Essa desconfiança vem desde 1900, quando Machado de Assis publicou Dom Casmurro. Afinal Capitu deu ou não deu pro Escobar? Dom Casmurro é ou não é corno, palavra cujo sentido de infâmia - ainda mantendo bastante de sua força nesta época de total permissividade - na época de Machado era motivo de crime passional, “justa defesa da honra”, e outros desagravos permitidos pela legislação e pelos costumes. A palavra corno era tão infamante que mesmo o sangue não lavava honra nenhuma. O cara era corno e, lavasse ou não lavasse o brio dos seus chifres com todos os sabões e explicações, o universo dos olhares convergia, pelo menos ele assim sentia, pra sua infamada testa. Curioso que, ontem como hoje, o epíteto "corna" não se grudou às mulheres. Ela é tola, idiota, “não sei como suporta isso!”, “corneia ele também!”, mas o epíteto não colou. Mas Dom Casmurro sofre da dor específica umas 50 páginas do romance, envenenado pela hipótese da infidelidade da mulher. Eu, porém, ao contrário dos erúditos, não tenho hipótese. Capitu deu pra Escobar. O narrador da história, Bentinho/Machado, só não coloca até o DNA de seu (do Escobar, claro) filho porque ainda não havia DNA, que atualmente está acabando com o romance “policial” e a novela passional. Mas Bentinho/Machado fica humilhado, desesperado mesmo, à proporção em que o filho vai crescendo e mostrando olhos, mãos, gestos e tudo o mais do amigo, agora morto. Bentinho chega a chamar Escobar de comborço (parceiro na cama conjugal). Essa é a intriga principal do livro. Mas, curiosamente, pela nossa eterna pruderie intelectual, ainda ridiculamente forte com relação a outro tipo de relação, a homo, nunca vi ninguém falar nada das intimidades entre Bentinho e Escobar. É verdade que, na época, Oscar Wilde estava em cana por causa do pecado “que não ousa dizer seu nome”. Mas, olhe, não estou afirmando nada. Leiam estes destaques (da edição da Editora Nova Aguilar), que colhi no original, e julguem. Quem fala é Bentinho/Machado...

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