terça-feira, 15 de abril de 2008

O Cânone e o Século XXI
Como já estamos no século 21, podemos refletir um pouco sobre os grandes escritores do século passado. Já na década de 80 discutia-se entre a crítica literária quem seriam os grandes escritores daquele século em termos de universalidade. Chegou-se a conclusão de que quatro nomes não poderiam faltar a essa lista. Não gostamos de cânones, ou listas, mas elas têm a útil função de chamar a atenção para aqueles autores que pouco damos valor e nos instiga a pensar e comparar. É difícil a arte de comparar, pois ela é totalmente subjetiva, principalmente quando não envolve preços. É claro que, como toda lista, ela é polêmica e pode ter simpatizantes e antipatizantes.Em se tratando de literatura mundial a discussão passa a ser um pouco mais empolgante, pois é-nos impossível ter acesso a todos os livros escritos no mundo no século 20. E se temos acesso à grande parte deles, não conseguimos lê-los todos. Por essa razão também nos fiamos na crítica alheia, para servir de esteio à nossa opinião. A crítica costuma eleger quatro nomes que fizeram significativa diferença para a literatura no século 20. Dentre eles, estão um francês, um irlandês, um alemão e um tcheco. Não é difícil acertar quem são: Marcel Proust, James Joyce, Thomas Mann e Franz Kafka. Não temos como discordar em uma listagem tão apertada como essa. Esses quatro autores são os mais significativos do século 20, sem dúvida. Porém, se pudéssemos acrescentar alguns mais, incluiríamos mais três autores: o português Fernando Pessoa, o japonês Yukio Mishima e o algeriano Albert Camus. Porque esses três são tão significativos? É simples, basta um olhar pela obra desses autores. A poesia de Fernando Pessoa não tem rivalidade desde os tempos de Camões, nem mesmo o nosso grande poeta Carlos Drummond de Andrade chega aos pés de Fernando Pessoa em transcendência artística e universalidade. Ao adotar os heterônimos (mais do que meros pseudônimos) Fernando Pessoa assume personalidade e estilos completamente diversos, profundos, líricos e universais, cada heterônimo à sua maneira. Não dá para mapear a literatura mundial que o sucedeu sem passar por ele. Fernando Pessoa foi um verdadeiro divisor de águas na poesia do século 20. Yukio Mishima talvez seja menos conhecido do público brasileiro, até porque só recentemente apareceram traduções no vernáculo para três de seus livros: "Mar Inquieto", "Confissões de uma Máscara e o Soberbo", "Cores Proibidas" (todas as edições pela Editora Companhia das Letras). A força narrativa e a complexidade dos personagens criados em seus romances mostram porque ele foi um marco, não só para a literatura japonesa, mas também para a literatura mundial.O algeriano Albert Camus consegue passar pelos seus romances toda a dialética de consciência vivida pelos seus personagens. Com uma narrativa forte e ao mesmo tempo fluida, é impossível não ficar perturbado ao ler suas obras. Dentre elas "O Estrangeiro" é a mais significativa e ao retratar as relações entre a França e a Algéria, toca em questões universais como o preconceito e o prejulgamento.O engraçado é que nenhum destes Autores (salvo Thomas Mann, laureado em 1929 e Albert Camus, em 1957) recebeu o Prêmio Nobel de Literatura. Como todas as listas, esta também é sujeita a opiniões divergentes, pois é certo que nem mesmo quem a criou deve estar contente em ter que subtrair vários escritores notáveis do século passado.

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